A comunidade portuguesa do estado de Nova Iorque prepara-se para viver o segundo aniversário do 11 de Setembro seguindo a sua rotina diária, não estando prevista qualquer cerimónia especial nas associações, clubes ou igrejas portuguesas.
Em Nova Iorque trabalham algumas centenas de portugueses praticamente em todas as actividades, desde a construção civil ao comércio, banca, serviços e universidades.
A maioria reside fora da cidade, nomeadamente em Long Island, Westchester e no estado vizinho de Nova Jersey, fazendo o trajecto diário casa-trabalho-casa para Nova Iorque de transportes públicos ou de automóvel.
Há dois anos, Alex Saraiva era um desses trabalhadores que se encontrava no 38/o andar do World Trade Center ao serviço de uma firma de investimentos quando o primeiro avião atingiu a torre norte.
Alex recordou à Agência Lusa a angústia desses momentos, quando sentiu o prédio a mover-se debaixo dos seus pés e os elevadores a desintegrarem-se à sua frente, arrastando destroços e pessoas.
"Essas memórias continuam bem vivas na minha cabeça e acho que nunca mais as vou esquecer", disse.
Por se encontrar num andar perto do solo, Alex conseguiu fugir a tempo evitando a derrocada da torre, mas durante a descida, pelas escadas, diz que viu de tudo, até um bombeiro a ter um ataque cardíaco, no 11/o andar, devido ao esforço de subir carregado com materiais de combate a incêndios.
A partir do 5/o andar a descida fez-se sob água, que caía de todo o lado e ia molhando as pessoas cobertas de pó, que - recorda Alex Saraiva - adquiriam um ar grotesco.
Finalmente no exterior, Alex recorda-se de ter visto autênticas "poças de sangue" cobertas com lençóis, os restos mortais das pessoas que se atiraram dos andares superiores.
"São imagens que me acompanham todos os dias quando venho para o trabalho e que mudaram a minha vida para sempre", referiu.
Nesse dia, o encontro com a esposa e filhos, em Rockland, a norte de Manhattan, só aconteceu cerca das 5.30 horas da tarde (oito horas depois do atentado, que aconteceu às 9.00 horas locais), pois o trajecto de mais de 20 quilómetros teve de ser feito praticamente todo a pé uma vez que não havia transportes públicos nem táxis.
Hoje, Alex diz que a vida continua, mas não é a mesma coisa: "Dou graças a Deus por me ter dado uma segunda oportunidade e me ter poupado", diz lembrando os milhares que perderam a vida nesse dia.
Diz que aprendeu muitas lições, a mais importante das quais é a de que a vida não é algo que esteja nas nossas mãos e por isso hoje diz viver cada dia intensamente, com mais tempo para a família e menos ambição.
Da sua firma morreu um dos empregados no atentado que será lembrado na quinta-feira - com um minuto de silêncio -, exactamente à hora do impacto do primeiro avião na torre Norte.
A Lusa falou também com outros portugueses que trabalham em Manhattan mas que não viveram directamente a tragédia, e todos afirmaram encarar a data com "tranquilidade", embora continuem a pensar que "um novo ataque terrorista é quase inevitável num futuro próximo" por causa da guerra no Iraque.
Este sentimento é também partilhado pela maioria dos residentes da cidade de Nova Iorque, que apesar de levarem a sua vida normal e estarem mais alerta, dizem sentir-se ainda "vulneráveis" a uma nova investida terrorista.