Desde a sua infância que Noémia Fernandes, de 29 anos, está \"presa\" a uma cadeira de rodas, pelo facto de ser paraplégica. Apesar de nova, não pode passear, ver montras, ou simplesmente ir ao cinema com os amigos, como outras pessoas. Isto porque na cidade de Vila Real são muitos os obstáculos que lhe aparecem pela frente. Noémia nem sequer pode tratar de documentação na Câmara Municipal, devido aos muitos degraus com que se depara à entrada dos Paços do Concelho. Quando foi renovar o seu bilhete de identidade, impossibilitada de entrar no edifício do registo civil, devido às escadas, teve de preencher toda a documentação no exterior e uma funcionária do serviço deslocou-se à rua para recolher as suas impressões digitais. Esta situação fê-la sentir \"ainda mais diferente\" do que já se sente. Por isso, decidiu refugiar-se na sua aldeia, em Constantim.

Há dois anos, Noémia tirou a carta de condução e mandou equipar um veículo para ela. No entanto, diz que \"é impossível andar nas ruas da cidade sozinha\", porque os passeios, para além de \"estreitos\", são \"muito altos\", assim como as próprias rampas. Já quando estudou na escola Diogo Cão e depois na escola secundária Camilo Castelo Branco foram várias as barreiras arquitectónicas que a impediram de levar uma vida \"mais normal\". Mas hoje, passados alguns anos, diz que \"está tudo na mesma\". Noémia gostava de poder passear com os amigos, ir a um café da cidade ou até mesmo ao cinema, mas tudo isso \"não passa de um sonho\", porque os degraus, para ela, são como \"uma montanha a escalar\".

Neste momento, Noémia não tem muito que fazer. Limita-se a \"teclar umas coisinhas\" no computador e a passear na cadeira de rodas pelas ruas da sua aldeia. Anseia por um trabalho como secretária ou telefonista, porque, como confessou ao Semanário TRANSMONTANO, \"quanto menos tempo estiver em casa, melhor\". Já tentou obter alguns apoios, nomeadamente para equipar a sua casa, mas nunca conseguiu. Inclusive, nunca esteve no segundo piso da sua habitação, por esta ter demasiados degraus para lá chegar.

A Câmara de Vila Real admite que as pessoas com deficiência possam \"ter dificuldades em andar na cidade\" e que muitas rampas \"não estão bem feitas\". Até porque \"a cidade não é plana, tem relevos, altos e baixos, o que dificulta a vida aos deficientes\". No entanto, o vereador Albertino do Fundo garantiu que \"há atenção a estes problemas\" e diz que \"foram feitas algumas alterações no sentido de facilitar-lhes a vida, como por exemplo o rebaixamento dos passeios em alguns pontos da cidade. E nas zonas novas, em vez de rampas nos passeios, optou-se por elevar a estrada, nas zonas das passadeiras, até ao nível do passeio\". O autarca explicou ainda que o facto dos passeios serem estreitos em alguns locais se deve ao facto de Vila Real ser uma cidade antiga, não sendo \"fácil\" alargá-los, uma situação que levaria a outro problema: a circulação automóvel.

O facto dos edifícios públicos não terem rampas para deficientes, segundo o vereador, não é um \"problema\" da autarquia. Quanto ao edifício dos Paços do Concelho, Albertino do Fundo adiantou que, \"em breve\", este entrará em obras, e no projecto está contemplada a construção de um elevador para facilitar a entrada de deficientes.

Maus acessos em Bragança

A nível de acessos para deficientes, Bragança está \"muito mal, muito mal mesmo\". Nesta cidade, um cego ou uma pessoa que esteja numa cadeira de rodas consegue circular. Mas com \"muitas dificuldades\". Desde infantários a escolas, passando por acessos a organismos públicos, como por exemplo o registo civil, casas de banho, caixas multibanco, bancos, entre \"muitos outros\", faltam infra-estruturas que facilitem a vida aos deficientes. E isto apesar de existir uma legislação, há já 11 anos, que refere que tudo o que não está de acordo com este princípio possa vir a ser corrigido.

O presidente da Associação Sócio Cultural de Deficientes de Trás-os-Montes (Ascudt), João Carlos Afonso, refere, a título de exemplo, a \"falta de cuidado\" nas descidas dos passeios das ruas da cidade, a \"inexistência\" de sinalização dos buracos e os carros estacionados em cima dos passeios, que são \"um verdadeiro problema\" para os invisuais. Entre estas situações surge um exemplo \"flagrante\": o notário de Bragança tem no seu interior uma rampa de acessos para deficientes, mas na entrada do edifício só tem escadas. No entanto, na opinião do responsável da Ascudt, com um pouco de \"boa vontade e estética\" esses problemas podiam ser corrigidos.

Elena Garcia, da Ascudt, mãe de uma criança com deficiência, também diz que as dificuldades que surgem no dia-a-dia de um deficiente podiam ser resolvidas \"sem custar nada\". \"No jardim-de-infância onde está o meu filho, a cadeira de rodas não entra por aquela porta minúscula. A solução é leva-lo ao colo\", contou ao Semanário TRANSMONTANO.

O presidente da Câmara Municipal de Bragança, Jorge Nunes, reconhece que \"ainda há algumas coisas a fazer\" nesse sentido, mas afirma que nos últimos cinco anos houve por parte da autarquia \"um grande investimento\" a esse nível, como o \"cuidado\" de colocar rampas e elevadores em alguns edifícios, para além da \"preocupação\" em vedar e sinalizar as obras. Jorge Nunes acrescentou ainda que \"não é fácil mexer em edifícios antigos\", mas sublinhou que nas novas construções os acessos para deficientes são tidos em conta. Na opinião do autarca, a inexistência de acessos para deficientes em muitos organismos públicos prende-se também com questões de \"cultura dos próprios presidentes das instituições\".

Manuela Miranda, membro da Ascudt, reconheceu alguns aspectos \"melhorados\" com as intervenções do Polis, mas mesmo assim garante que \"continuam a existir problemas\". No entender desta responsável, a \"educação, civismo e consciência social das pessoas\" é muito importante. E Elena Garcia remete logo para um exemplo prático: \"os lugares de estacionamento para deficientes são ocupados por qualquer \"espertinho\" que ali chegue primeiro\". Com o intuito de mudar estas situações, a Ascudt vai \"retomar\" as campanhas pelas escolas para sensibilizar os estudantes.



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