Foi um dos períodos mais negros da história da região. Milhares de hectares de vinha, todos situados em zonas nobres, e centenas de quintas ficaram abandonadas.
Valeu o aparecimento da videira americana, resistente à praga, que enxertada com as castas tradicionais do Douro, possibilitou que a vinha voltasse aos calços e socalcos da região, mas noutros terrenos não contaminados pela filoxera.
A estes terrenos que foram devastados, e hoje incultos, chamam-se mortórios. As zonas do Douro onde mais aparecem são nos concelhos de Alijó, Sabrosa e S. João da Pesqueira, ou seja no Cima Corgo.
Em alguns casos, a amendoeira e a oliveira tomaram conta dos mortórios. Contudo, nos últimos anos, estas áreas passaram a ser procuradas pelas grandes empresas e quintas do Douro.
Duas fortes razões existem para o interesse: a sua localização em zonas por excelência produtoras de vinhos de alta qualidade, classificadas com as letras A e B, e o "pousio" de dezenas de anos a que os solos foram sujeitos.
A partir de 1986, e ao abrigo do PDRITM, cerca de 2500 hectares de mortórios no Douro foram replantados. Os néctares com origem nestes solos são vinhos já premiados em concursos nacionais e internacionais.
Segundo um levantamento feito em 1970, no terreno pelo Centro de Estudos Vitivinícolas do Douro, sediado na Régua, havia na região Demarcada do Douro cerca de dez mil hectares de mortórios, distribuídos da seguinte forma: na zona do Baixo Corgo (Mesão Frio, Régua, Santa Marta de Penaguião, Vila Real, Resende, Lamego e Armamar) existiam 1400 hectares. Na zona do Cima Corgo (Sabrosa, Alijó, Murça, Carrazeda de Ansiães, Tabuaço e S. João da Pesqueira) havia 7500 hectares. E na do Douro Superior (Vila Flor, Moncorvo, Freixo de Espada à Cinta, Alfândega da Fé, Foz CÎa, Meda, Mirandela e Figueira de Castelo Rodrigo) apenas 1000 hectares. Os dados constam do dossier da candidatura do Alto Douro Vinhateiro a Património Mundial.
Neste momento, a área de mortórios existente não pode ser intervencionada. De acordo com José Pereira, director do Centro de Estudos Vitivinícolas do Douro, só "através de um projecto integrado, onde a concessão de novos direitos de plantação é fundamental", é que a recuperação desses terrenos para a vinha será possível, reconhecendo que para a produção de vinho "os solos dos mortórios são excelentes".
Há empresas que reclamam a alteração da actual legislação. Grandes quintas com zonas de mortórios não podem intervir, pois não possuem direitos de plantação, continuando os solos tal qual estavam no final do séc. XIX.
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