Dez anos após a sua criação, o Museu do Douro viu finalmente iniciadas as obras da sede, numa luta feroz contra o tempo, para garantir o apoio dos fundos comunitários.
Mas aquele que é um projecto museológico de características únicas em todo o país - um museu de território e com diversos núcleos na região - tem vivido incerto entre sucessivos recuos, que em vários momentos, e sob a tutela de cinco governos e sete ministros da Cultura diferentes, puseram em perigo a sua continuidade.
As obras na Casa da Companhia, adquirida em 2004 pelo Ministério da Cultura, por 1,7 milhões de euros, orçadas em mais de cinco milhões de euros, tiveram início há menos de dois meses, e têm de estar forçosamente concluídas até finais de 2008, quando termina o actual quadro comunitário de apoio.
Criado pelo Decreto-lei 125/97, graças às propostas do actual governador civil de Vila Real, António Martinho, na época deputado do PS, e Lino de Carvalho, deputado do PCP, já falecido, a criação do museu foi aprovada pela unanimidade das forças partidárias na Assembleia da República, mas só em 2006 foi definido que o pólo principal da unidade museológica ficaria sediado na cidade de Peso da Régua. Em 2002 foi criada a comissão instaladora, que começou a recolha e o inventário de materiais para o futuro espólio. Mesmo depois disso, o projecto sofreu numerosos reveses , o último dos quais a demissão do seu director desde a primeira hora, Gaspar Martins Pereira. A saída do professor e historiador, em conflito com a directora-geral de então, gerou polémica na região duriense, envolvendo autarcas e outras personalidades. O seu sucessor deverá ser Maia Pinto, da estrutura do IPPAR (ver outro texto).
O presidente do Conselho de Administração da Fundação do Museu do Douro, Sarsfield Cabral, lembrou ao JN que \"a saída do professor Gaspar Martins Pereira foi uma contrariedade\", mas \"não alterou em nada as actividades previstas pelo museu\". Aquele responsável comentou que \"a demissão transformou-se num assunto dramaticamente polémico, o que não é benéfico para a instituição\".
A aprovação dos estatutos da Fundação do Museu do Douro, em finais de 2005, acabou por tornar-se um dos passos decisivos para a concretização definitiva da estrutura. A fundação funciona com cinco elementos no Conselho de Administração e é constituída por 50 parceiros, dos quais 19 são autarquias (os restantes são instituição públicas e privadas). Entre apoios directos do Ministério da Cultura, dos sócios- -fundadores e ao abrigo do mecenato, o orçamento anual do Museu do Douro ascende já a 1,3 milhões de euros.
De entre as actividades já realizadas, destacam-se as exposições \"Jardins Suspensos\", com parte do espólio, e \"Marcos de Demarcação\", sobre a demarcação pombalina de 1761, que já foram visitadas por dezenas de milhares de pessoas.