A Câmara de Bragança aguarda uma resposta do ayuntamento de Zamora à proposta que foi formulada há alguns meses, no sentido de as duas cidades avançarem com uma candidatura conjunta à UNESCO. Em causa está a classificação da Cidadela de Bragança e do casco antigo de Zamora a Património Mundial da Humanidade.

Esta seria o primeiro projecto transnacional de dois países a ser candidatado à UNESCO, «o que seria uma ideia original, pois é mais difícil cada cidade avançar sozinha», explicou Fernando de Sousa, presidente do Centro de Estudos da População, Economia e Sociedade.

O presidente da Autarquia brigantina, Jorge Nunes, afirmou que, para já, tudo não passa de uma intenção e que aguardam uma resposta positiva do lado espanhol para começarem a preparar o processo, que ainda poderá demorar mais de três anos. Do outro lado da fronteira, os estudos para a candidatura do casco histórico mais importante do Românico na Península Ibérica estão mais adiantados.

A ideia de candidatar a Cidadela a Património da Humanidade tem nove anos, mas nunca passou de uma mera hipótese por falta de condições necessárias muitas casas da Cidadela estavam em ruínas e em mau estado de degradação.

A candidatura à UNESCO exige vários requisitos, nomeadamente ao nível da qualidade do património e em Bragança, tem-se trabalhado para isso. No singular núcleo murado que é a Cidadela estão, na recta final, as obras de requalificação das fachadas e telhados de 64 casas. No local, existem 122 edifícios públicos e privados, mas apenas 36 estão habitados . Há meia centena de moradores.

Para além disso, a proximidade da Estação de Tratamento de Águas Residuais de Bragança pode ser um mau indicador à viabilização de uma candidatura. \"Dá uma imagem negativa a quem se aproxima das muralhas do castelo e provoca maus cheiros nos meses quentes\", referem residentes, com o anonimato como condição. Mesmo assim a candidatura agrada. \"Se for para bem que venha\", diz-se.

O presidente da Junta, Jorge Novo, considera que, antes de mais, é preciso que Autarquia, Comissão de Coordenação e Desenvolvimento do Norte e Governo, invistam mais no local. \"Nestas coisas às vezes deitam-se foguetes, tocam-se os sinos e os políticos regozijam-se, mas depois fica tudo na mesma\", salienta.

Apostar no que é único

Na Cidadela de Bragança há três monumentos classificados como Património Nacional o castelo, a Domus Municipalis e a igreja de Santa Maria. No entanto, o director do Museu do Abade Baçal, João Neto Jacob, considera que a Cidadela vale sobretudo pelo \"conjunto\". Ainda assim, o historiador realça a existência de duas peças \"excelentes\": a Domus Municipalis e a Torre da Princesa. Ambas foram construídas na mesma altura (no final do século XIV), embora a primeira seja um modelo do Românico e a segunda do Gótico. O conjunto militar das muralhas é também interessante. \"Mas a Domus é, de facto, um edifício singular e até intrigante\" refere Neto Jacob.

O dirigente afirma que ainda há trabalho a fazer na reabilitação e recuperação de edifícios e fachadas. \"Só depois se deve avançar para uma candidatura, que tem de se basear na excelência e no que a Cidadela tem de único\".



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