A pintora Raquel Rocha fez hoje, em Vila Real, um protesto simbólico para denunciar “a destruição” de uma obra sua exposta num museu, devido ao mau tempo, e “a desvalorização” do valor da peça pelo seguro.

O município de Vila Real, responsável pelo Museu da Vila Velha, disse que o processo não está encerrado e referiu que cabe à seguradora pagar os danos provocados na exposição.

Raquel Rocha, 44 anos e residente no Porto, escolheu o Dia Internacional dos Museus, que se assinala hoje, para um protesto simbólico em frente à Câmara de Vila Real contra aquilo que considera ser o “desrespeito pelo património cultural”.

À chuva, com dois cavaletes vazios e uma camisola negra com as palavras “respeito pela cultura” escritas a branco, a artista quis chamar a atenção para a sua obra que “foi brutalmente danificada, sem recuperação” e que “não tem direito ao valor do seguro”.

Em dezembro de 2019, a depressão Fabien afetou a cidade de Vila Real, atingiu a cobertura do Museu da Vila Velha, danificou duas obras e destruiu uma terceira e obrigou à realização de obras de reparação na unidade museológica, que reabriu ao público este ano.

Uma das peças afetada foi “Celebração”, da autoria de Raquel Rocha, com 10 metros de comprimento e que fazia parte da exposição individual “NU PLURAL” (com cerca de 70 obras da sua autoria) que abordava o tema do preconceito da sexualidade na deficiência.

Esta obra foi desenvolvida em conjunto com o escultor José Rodrigues, que morreu em 2016.

Raquel Rocha disse tratar-se do trabalho “mais importante” da sua vida e lamentou o “seu desfecho”, sem que “haja nem sequer uma tentativa de recuperação”.

A peça estendia-se pelo chão do museu e, aquando do mau tempo, foi retirada, uma ação que leva a artista a questionar se “não determinou a sua perda total”.

Raquel Rocha explicou ainda que a obra tinha um valor de seguro “de 20 mil euros” e que, agora, a seguradora “quer pagar apenas cerca de 15% do seu valor” (3.500 euros), apesar de ter considerado a “perda total” da peça.

A artista criticou a “passividade do município” em todo este processo, o “calvário burocrático” que disse estar a ser sujeita e questionou se uma depressão “altera a dignidade de um artista” e o “valor de uma obra”.

“A perda é definitiva, não consigo perceber esta decisão e venho contestá-la publicamente. Vim aqui hoje quebrar um silêncio de um ano e meio”, salientou a artista.

Raquel Rocha apontou a “perda marcante” que sofreu, a "nível familiar e artístico" e pede uma reavaliação da situação. “Realmente é uma ousadia trabalhar em arte no nosso país”, concluiu.

O município de Vila Real explicou que, em relação à exposição “NU PLURAL”, foi feito um seguro de transporte das obras e um seguro das próprias obras e de acordo com os valores fornecidos pelos artistas, um procedimento igual a todas as exposições.

A autarquia disse ainda que o perito da seguradora fez a avaliação das obras e que “o município não se pode sobrepor, evidentemente, ao valor do que é decidido pela companhia de seguros”, a “quem cabe pagar os danos provocados na exposição”.

Segundo a mesma fonte, a artista teve oportunidade de, ao longo do processo, apresentar o seu próprio perito, tendo considerado que não devia incorrer nessa despesa nem apresentar esse perito.

A Câmara de Via Real frisou, no entanto, que o “processo não está encerrado”, que se continua a “promover um diálogo” mas que, no final, “terá que se cumprir a lei”.



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