Em 120 anos de história, a Linha do Tua conheceu na segunda-feira passada o acidente mais trágico de sempre. O facto foi aproveitado, de imediato, como um bom motivo para a encerrar definitivamente, por falta de segurança.
Antes disso, outros foram avançados, como a falta de rentabilidade e a mais-valia que a construção de uma barragem na foz do rio Tua poderá representar. Terá esta obra de engenharia cravada numa \"parede\" capacidade para resistir?
As opiniões dividem-se, mas, para já, leva dianteira a tese de que aquele \"monumento\" é uma potencialidade turística ímpar, que deve ser aproveitada para desenvolver os concelhos que atravessa. O problema é que a sua manutenção só dá prejuízo e o Governo já deu a entender que, como tal, não se justifica mantê-la. Depois há a intenção da EDP em construir um aproveitamento hidroeléctrico, tido como de interesse nacional, que agrada a alguns autarcas que ali vêem mais uma fonte de rendimento, que claramente não têm na linha.
O presidente da Câmara de Carrazeda de Ansiães, Eugénio de Castro, é a favor das duas soluções. Explica que com tanta inovação já demonstrada noutras paragens, sobretudo no litoral, poderia arranjar-se uma forma de \"compatibilizar a construção da barragem com a manutenção da Linha do Tua\". Como? \"Se não houver alternativas de desvio, faça-se túneis\", desafia.
O homólogo de Mirandela, José Silvano, é dos que mais protestam contra a barragem e entende que a sua compatibilidade com a Linha do Tua só é possível se a albufeira não ultrapassar a cota 148. \"De outra forma não é possível manter a linha. Seria necessário mais dinheiro do que para o TGV\", sustenta.
Contra a posição da Eugénio de Castro manifesta-se também o edil de Vila Flor Artur Pimentel. Na sua opinião e sob o ponto de vista turístico, \"a linha não tem interesse com a barragem\". Ou seja, \"um espelho de água tiraria a actual beleza da paisagem\", que classifica mesmo como \"belo-horrível\".
O que agora levanta algumas interrogações é o facto de a REFER continuar a investir na melhoria da Linha do Tua (dois milhões euros entre 2001 e 2006), enquanto a EDP prossegue a elaboração dos estudos para a construção da barragem que deverá submergir uma boa parte da linha. \"Penso que há falta de diálogo. Deviam sentar-se à mesma mesa e definir o que deve ser feito\", critica Artur Pimentel.
José Silvano entende que o acidente de segunda-feira deve servir de mote para a continuação do investimento da segurança da linha, tornando-a mais atractiva. O investigador da Universidade de Coimbra José Gomes dos Santos defende soluções de segurança semelhantes às utilizadas em algumas zonas dos Alpes e que até já foram implementadas na linha da Beira Baixa. São redes eléctricas que emitem sinal em tempo real quando são atravessadas por deslizamento de terras ou pedras. A estação mais próxima recebe o alerta e pode informar a composição do perigo.