A Associação Vale d'Ouro contestou hoje declarações do ministro das Infraestruturas, Miguel Pinto Luz, que não considerou prioritária a reabertura da Linha do Douro até Barca d'Alva, lamentando o "profundo desconhecimento" sobre aquela ferrovia.
"A Associação Vale d’Ouro lamenta o profundo desconhecimento sobre a realidade da Linha do Douro e não compreende esta posição", pode ler-se num comunicado enviado hoje pela associação sediada no Pinhão (Alijó, distrito de Vila Real), que se tem destacado na defesa da Linha do Douro, a qual lamenta ainda que, na região, não tenha havido "qualquer reação conhecida por parte dos autarcas ou outras instituições".
Em causa estão declarações de Miguel Pinto Luz emitidas pelo 'podcast' Sobre Carris, do jornal Público, em que o ministro das Infraestruturas e Habitação refere que a reabertura da Linha do Douro na sua totalidade, até Barca d'Alva, não é uma prioridade do Governo.
"Primeiro, não é prioritário para nós. Segundo, na avaliação que fazemos, não existe dinâmica comercial para o investimento que é preciso. Mas estamos a estudar outras soluções, nomeadamente aproveitamento turístico e outras que estão em cima da mesa, mas é algo que não temos uma solução, e portanto só falamos daquilo para que temos soluções", referiu o ministro na entrevista.
A Associação Vale d'Ouro recorda que "a reabertura da Linha do Douro até Barca d’Alva tem, neste momento, o projeto de execução em curso, que deverá estar concluído em cerca de um ano", lembrando ainda que "a Assembleia da República, aprovou por unanimidade, e portanto com os votos favoráveis do partido que Miguel Pinto Luz milita [PSD], uma resolução que instava o Governo a proceder à reabertura da Linha do Douro até Barca d’Alva".
"Posteriormente à resolução, a CCDR-N [Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte] lançou um estudo que concluiu que “o projeto é rentável do ponto de vista económico, com os benefícios económicos, sociais e ambientais a superarem os custos”, aponta.
O presidente da associação, Luís Almeida, mostrou-se "chocado" com as declarações do ministro, acrescentando que “são poucos os investimentos que com tão pouco financiamento, menos de 100 milhões de euros, apresentam uma TIR [taxa interna de rentabilidade] de 8,04% e criam 4.700 postos de trabalho".
"Mesmo no pior cenário, a TIR é mais positiva do que muitos dos investimentos que se fazem por esse país fora", considera Luís Almeida, mostrando-se ainda preocupado com a referência a outras soluções: “está encomendado um estudo, que estará a meio, com vista à reposição de transporte ferroviário pesado, nem quero imaginar o que serão outras soluções”, refere.
Para Luís Almeida, "a região precisa de comboio e mobilidade com urgência, não de experimentalismos, dúvidas ou mais adiamentos”, concluindo que está "há 30 anos à espera” da reabertura da linha entre Pocinho (Vila Nova de Foz Côa) e Barca d'Alva (Figueira de Castelo Rodrigo), no distrito da Guarda.
O dirigente associativo critica ainda o silêncio da região, observando que, "com raras exceções, o tema saiu da agenda dos autarcas e de outras instituições nos últimos meses".
"Não quero acreditar que exista aqui alguma solidariedade partidária ou preconceito com o impacto visual da eletrificação em detrimento da descarbonização do Vale do Douro até Barca D'Alva, quando em causa está o futuro e o crescimento do nosso território", aponta.
A Associação Vale d'Ouro recorda ainda que "continua atrasado o arranque das obras de eletrificação entre Marco e Régua, não há avanços no projeto de eletrificação entre Régua e Pocinho e o atual Governo nunca fez um ponto de situação sobre o projeto da reabertura do Pocinho até Barca d’Alva".
A Linha do Douro liga atualmente o Porto ao Pocinho (171,5 quilómetros) e há vários anos que é defendida a reabertura do troço entre o Pocinho e Barca d'Alva, que foi desativado em 1988.
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