Duas dezenas de produtores de vinhos de Trás-os-Montes participaram em prova dirigida para restauração, hotelaria e lojas de venda de produtos regionais, em Bragança. A iniciava foi promovida pela Associação Comercial, Industrial e Serviços de Bragança (ACISB), com o apoio da Comissão Vitivinícola Regional de Trás-os-Montes (CVRTM).
Aumentar a presença dos vinhos de Trás-os-Montes nas cartas dos restaurantes de Bragança e nas prateleiras dos espaços de venda de produtos regionais foi o propósito da ACISB que, como apoio da CVRTM promoveu uma prova de vinhos de Trás-os-Montes em Bragança.
Cerca de 20 produtos de vinho e mais de 50 representantes da restauração local marcaram presença, num momento de conhecimento, esclarecimento e diálogo, com o intuito de criar novas parecerias e relações comerciais. “Com esta iniciativa queremos que os produtores e os empresários locais se conheçam, entrem em diálogo, conheçam os vinhos que, estamos certos, vão valorizar a oferta dos nossos restaurantes”, defendeu Maria João Rodrigues, presidente da ACISB. “Quisemos ser os facilitadores de futuras relações comerciais, quisemos criar a oportunidade de mitigar alguma desinformação que possa existir, quisemos criar novas dinâmicas económicas e sociais, para que todos possamos trabalhar com o mesmo objetivo de valorização da região, de reforçar a nossa autenticidade, a nossa identidade que é o que nos diferencia”, acrescentou a secretária geral da mesma associação, Anabela Anjos.
Da parte da CVRTM, o seu presidente, Francisco Ataíde Pavão, valorizou a iniciativa considerando que “o diálogo que permitiu, entre produtores e a restauração local”, é o caminho que os vinhos de Trás-os-Montes precisam para trabalhar a sua afirmação. “Acontece que dentro da nossa região os nossos vinhos não são muito conhecidos, alguma restauração dá primazia a outras regiões mais conhecidas, há algum desconhecimento por parte dos responsáveis da restauração e da hotelaria daquilo que são as especificidades da região, dos produtores que existem e da qualidade temos”, afirmou Ana Alves, a responsável pelo departamento de enologia e promoção da CVRTM.
Há já 110 produtores, com 140 referências, de vinhos certificados de Trás-os-Montes, ainda é necessário muito trabalho na afirmação destas referências para que alcancem a visibilidade que existe em outras regiões.
“Os restaurantes são os verdadeiros embaixadores dos vinhos”
Ricardo Sá Fernandes, reconhecido advogado, é também um pequeno produtor de vinho de Trás-os-Montes. Com mais dois sócios, trabalha a marca Palmeirim de Inglaterra. Afirma, sem reservas, que “os restaurantes são os verdadeiros embaixadores dos vinhos”, reconhecendo a importância da iniciativa que a ACISB promoveu.
Rui Gonçalves, representante dos vinhos Vale Pradinhos, uma adega centenária, um nome emblemático da região, apesar de ter boa parte do trabalho de “afirmação” feito, continua a marcar presença nestes pequenos eventos sempre que pode. “É fundamental este diálogo direto com os setores da restauração e hotelaria, já temos um nome forte, muita procura, mas continuamos a participar porque queremos dignificar a região”. A mesma postura tem Fernando Ramos, da Quinta de Sobreiró de Cima, Valpaços, que este ano arrecadou o prémio de “Melhor Vinho Branco” de Portugal. “Estas iniciativas são sempre boas, promovem a região de Trás-os-Montes, uma região que está a crescer, mas ainda há trabalho a fazer”, defendeu.
Fernando Mogadouro, representante das Vinhas Velhas de Mogadouro, viu nesta prova uma enorme oportunidade: “É uma iniciativa de louvar, muito importante para nós, tanto em termos comerciais como em termos de apresentação, porque o nosso projeto é muito recente e não tem meios para publicidade e esta é uma forma excelente de chegar ao público”.
E cada projeto, cada vinho apresentado tinha uma história e são essas histórias que os representantes da restauração ouviram, para replicar aos seus clientes e acrescentar história e cultura a cada vinho que colocam sobre a mesa. Fernando Pessoa, representante das referências Encostas de Sonim, Sonini, entre outras, falava dos métodos de produção usados pelos romanos nos lagares escavados na pedra, outrora usados para a produção de vinho, atualmente património histórico e cultural que leva muitos visitantes ao concelho de Valpaços. Ricardo Sá Fernandes contava a história que está por detrás da referência Palmeirim de Inglaterra. “É uma homenagem a um antepassado que escreveu um romance de cavalaria, com esse título, muito famoso em toda a europa no sec. XVI”.
Os vinhos são um complemento da identidade regional que não se podem dissociar da cultura, do património, da paisagem e, sobretudo da gastronomia.
Casar a gastronomia regional com os vinhos de Trás-os-Montes
“Somos conhecidos pela qualidade da nossa gastronomia entendemos que o casamento perfeito deve acontecer com vinhos da nossa região. Sentimos que é nossa obrigação alertar para a necessidade de colocarmos os Vinhos de Trás-os-Montes num patamar superior, na oferta do nosso território”, defendeu Anabela Anjos.
E os representantes da restauração concordaram com esta perspetiva. Francisco Reis, do Copinhos, procurava nos vinhos de Sonim “o néctar ideal” para combinar com a filosofia da sua casa. Rosa Pires, do Restaurante Rosina, queria saber mais sobre os vinhos porque, contava, “os turistas nacionais cada vez mais pedem vinhos da região para acompanhar a refeição”. “Esta é uma oportunidade de conhecermos os produtores, o vinho e podermos aconselhar com mais segurança. Muitas marcas aqui presentes eu não conhecia, este diálogo vai resultar em parcerias”, acrescentou.
O Lost Corner é um local onde se bebe e vende bom vinho. Fernando Caldeira, o responsável, trabalha há cinco anos este mercado e referiu que a filosofia do espaço sempre foi apostar na promoção e venda dos produtos regionais. “O vinho de Trás-os-Montes foi sempre o nosso foco”. Faz o trabalho de prospeção sozinho, mas com nesta prova reconheceu uma excelente oportunidade de “trabalhar a afirmação dos vinhos e de expandir o mercado”.
Esta iniciativa aconteceu num espaço de excelência, nos jardins do Museu Abade de Baçal, em Bragança, e foi organizado no âmbito do projeto Turistando por Bragança, financiado pelo programa Valorizar.