Uma jovem associação de Bragança, a Fisga, aposta nas artes como terapia e inclusão, com as portas abertas a quem quiser experimentar e ao bairro social onde se instalou e com o qual se propõe trabalhar.

O bairro da Coxa é o ponto de encontro de um grupo constituído por 15 pessoas que preparam uma peça de teatro para apresentar à cidade no Carnaval e um plano de atividades com oficinas para públicos com menos acesso às artes.

A primeira exibição é para o bairro, um dos carenciados da cidade, e, para os miúdos que ali residem, as inscrições são gratuitas nas oficinas programadas para depois do mês de março, a primeira das quais de dança, como indicou à Lusa o coordenador Acácio Pradinhos.

A Fisga- Associação de Intervenção Social, Cultural e Artística nasceu há três anos a partir de um projeto do Agrupamento de Escolas Emídio Garcia, vocacionado para motivar alunos dos cursos profissionais através das artes.

A associação foi buscar o nome à conhecida peça para caçar aves e porque o objetivo é “fisgar”, cativar, conquistar, oferendo um laboratório de artes na sede instalada no local deixado vazio, há 20 anos, pelo Teatro em Movimento.

As instalações foram cedidas pela Câmara de Bragança e remodeladas e apetrechadas pelos elementos da associação, que tem agora também uma pequena sala de espetáculos, que o grupo de ação inaugurou com uma peça de teatro.

O mesmo grupo que prepara nova estreia para participar nas festividades de Carnaval de Bragança, com a encenação dos “Butelos e Caretos”, alusiva aos enchidos típicos desta época e aos mascarados tradicionais.

Os ensaios são à quarta-feira à noite e todos são voluntários como sublinharam à Lusa.

“Ninguém anda aqui para ganhar um tostão, cada um contribui com o que sabe”, enfatizou Zé Dafonte, um conhecido cartoonista local, que vai também ajudar a desenhar os cenários.

São os elementos que constroem o que é preciso, desde máscaras, fatos, adereços e todos são unânimes em apontar como uma das compensações o efeito terapia de grupo.

“É também psicólogo barato, faz-se uma boa terapia de grupo”, garantiu Zé Dafonte, elemento do grupo de ação que tem professores, um reformado, uma cozinheira, uma funcionária pública.

O “timoneiro” - como lhe chamam na associação - é Acácio Pradinhos, professor ligado às artes, que garante que quando são convidados para eventos conseguem juntar perto de 50 elementos e até já têm um grupo de caretos, batizado de “Grupelho”.

O projeto chama também jovens estudantes estrangeiros do Politécnico de Bragança a estudar na cidade ao abrigo do programa Erasmus.

A proporção de jovens garante subsídios do associativismo juvenil, de que vive a Fisga, além do apoio da Câmara de Bragança.

Depois do Dia Mundial do Teatro, a 27 de março, a associação promete uma viragem com maior abertura ao público, nomeadamente através das oficinas e ‘workshops’.

A presidente da Fisga, Fátima Castanheira, está ligada há vários anos aos serviços diocesanos para as minorias e migrantes e vê neste projeto “também um potencial de inclusão”.

“Este projeto tem também subjacente a integração, a promoção social do bairro, a luta contra a exclusão”, frisou.

Aos 52 anos, Ângelo César, proprietário de uma loja em Bragança, está a fazer o que gosta (teatro) e defende que “a expressão dramática devia fazer parte da formação desde o início” nas escolas.

Isabel Torres, cozinheira de 44 anos, chegou ao projeto pela mão da filha, que via nas peças de teatro conduzidas pelo professor Acácio Pradinhos no antigo liceu de Bragança.

Na Fisga, Isabel diz ter um “sentimento de pertença”.

Este projeto foi o “recomeço da vida social” para Fernanda Salazar, funcionária pública de 49 anos.

Rosa Silva é professora já próxima da reforma e teve a primeira experiência de teatro na escola Emídio Garcia, quando foi obrigada a substituir uma das suas alunas numa peça.

Chegou à Fisga incentivada por outros colegas, começou a fazer máscaras e agora está a fazer teatro.

O palco é onde se sente bem Valdemar Correia que, aos 77 anos, já tem longa experiência na representação, incluindo cinema.

Acredita que “Bragança está ávida de Cultura e não está a ser dado aquilo que a sociedade quer”, por isso se juntou a este projeto.

“Fazemos aquilo que nos faz felizes a nós e depois fazemos os outros felizes”, resumiu Acácio Pradinhos.

Foto: Fisga



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