A ProDouro - Associação de Viticultores Profissionais do Douro lançou hoje a luta preventiva contra o granizo e defendeu a criação de um observatório que deverá estar atento a questões como o ‘Brexit’ ou o preço dos vinhos.
“O nosso mote é encontrar soluções para a valorização da uva e do vinho da região”, afirmou à agência Lusa Rui Soares, que hoje tomou posse como presidente da associação sem fins lucrativos ProDouro, num encontro que decorreu no Peso da Régua, distrito de Vila Real.
Para o efeito, foi lançada uma iniciativa que visa a luta preventiva contra o granizo, um problema que tem afetado a região nos últimos anos e que tem tido consequências a nível da produção.
“Há soluções que se podem propor no sentido de impedir que tenhamos que assistir anualmente aos episódios de granizo e à destruição da produção”, afirmou Rui Soares, da Real Companhia Velha.
O responsável elencou métodos usados já em países como a França ou Alemanha e que podem a ajudar a mitigar as consequências da queda de granizo e a destruição da videira e da uva.
Explicou que uma dessas ferramentas consiste em “queimar uma substância ativa através de chaminés, que libertam um fumo rarefeito que vai para a atmosfera e vai criar núcleos de condensação nas bolas de granizo e vai fazer com que essas bolas de granizo sejam mais pequenas”.
Um outro método passa por “libertar uns sais, através de um balão (espécie de balão de São João) que vai para a nuvem e faz com que o granizo seja dissolvido e se transforme em chuva”.
“As soluções existem, estão no mercado e nós temos é que as implementar cá. Em vez de continuarmos a assistir impávidos e serenos à tempestade a acontecer, nós podemos criar mecanismo para prevenir ou minimizar”, frisou.
A ProDouro defende ainda a criação do Observatório do Douro, que agregará produtores, comerciantes, o Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP) ou a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), e terá como missão estar atenta e alertar para os “reais problemas do Douro”.
Por exemplo, uma das questões sobre a qual o Observatório se poderá debruçar é a eventual saída do Reino Unido ('Brexit') da União Europeia.
“A ProDouro encara esta questão com preocupação. O Reino Unido é um mercado muito importante para a região e tudo o que se vai passar com o 'Brexit' é, neste momento, uma incógnita”, salientou.
Mas o Observatório deverá também, defendeu Rui Soares, debruçar-se sobre outras questões prementes como o preço a que os vinhos da região são colocados no mercado.
“Encontrar um vinho reserva do Douro à venda por dois euros num supermercado é algo que está mal, está errado. Os custos de produção e de comercialização não são compatíveis com ter um vinho a dois euros ao consumidor”, referiu.
A recuperação dos muros de suporte, que representaram um papel importante na classificação do Douro pela UNESCO, é outras das preocupações e, por isso, o presidente da ProDouro, defendeu a criação de mecanismos que apoiem os proprietários porque as “ajudas que existem são manifestamente insuficientes”.
A associação está ainda preocupada com a flavescência dourada, uma doença que afeta a videira e provoca quebras de produção, e com a bactéria ‘Xylella fastidiosa’, que já foi detetada em Portugal e pode também afetar a vinha.
“Os problemas existem e nós não nos podemos conformar com eles. Queremos ser uma voz de alerta e contribuir para a solução”, concretizou Rui Soares, que tomou posse para um mandato de três anos.
A ProDouro é uma associação sem fins lucrativos que “tem por objetivo principal a defesa dos interesses dos seus associados”, viticultores com área de vinha superior a dez hectares ou que sejam produtores engarrafadores na Região Demarcada do Douro.
Fundada em 2015 por iniciativa da Real Companhia Velha e da The Fladgate Partnership, a associação conta atualmente com 56 associados que exploram 1.856 hectares de vinha na região.