A produção de castanha pode ter uma quebra até aos 90% em alguns soutos na região de Carrazedo Montenegro, no concelho de Valpaços, embora duas associações locais estejam em desacordo sobre a origem do problema que causa impacto económico.

Na zona da Serra da Padrela, no distrito de Vila Real, onde se situa a maior mancha de castanha judia da Europa, este fruto resulta na principal fonte de rendimento para muitas famílias, que este ano esperam quebras grandes na produção.

Para Lino Sampaio, produtor e responsável pela associação Agrifuturo, há “alguns fungos instalados” na região que necessitam de um “tratamento preventivo”.

“Devia ter sido feito. Também não adianta eu fazer esse tratamento e depois ter 20 ou 30 produtores que não fazem. Se não for travado rapidamente por todos, continua a ter condições para existir. Neste momento conseguimos ver quem fez tratamento e não fez”, destacou.

Segundo o produtor, que falava hoje aos jornalistas à margem da apresentação da Feira da Castanha, que se realiza entre 05 e 07 de novembro, em Carrazedo de Montenegro, em algumas áreas o prejuízo na produção pode atingir os 70% ou 80% ou “ainda mais”, mas nas zonas onde foi feito o tratamento a produção é a habitual.

“Eu sou um dos exemplos e vou ter a mesma produção, mas não é com muito agrado que digo isto. Começo a questionar qual é o trabalho e porque é que estas associações cobram assistência técnica aos agricultores e depois não fazem nada, isto dói-me profundamente. Era muito fácil, não devia ser questão e íamos ter um ano de super colheita”, acrescentou.

Os fungos atingem a folha do castanheiro, que fica de cor acastanhada e rebordo amarelo, originando a sua queda antecipada, e atacam também o pedúnculo do ouriço, provocando a sua queda precoce e consequentemente a quebra de produção.

A Agrifuturo aconselhou aos produtores, entre o final de julho e início de agosto, um tratamento preventivo à base de cobre.

Visão diferente tem Filipe Pereira, da Associação Regional de Agricultura das Terras de Montenegro (ARATM), que explicou aos jornalistas que há dados das estações meteorológicas mais próximas que indicam temperaturas negativas entre 13 e 20 de setembro.

“São dados inequívocos. O castanheiro é uma árvore rústica, mas não está habituada, antes da queda de fruto, a sofrer temperaturas tão baixas. Este ano foi completamente diferente dos outros, houve gelo nas partes mais altas e fez com que nestas zonas mais altas a diminuição da produção se tenha verificado”, referiu.

Filipe Pereira frisou também que este ano “a castanha vai ser de boa qualidade mas os calibres serão relativamente mais baixos do que nos anos anteriores”.

E acrescentou que para quem fez o tratamento o “aspeto visual da planta ficou protegido mas a castanha não existe”.

“O pessoal que tratou na zona que foi flagelada [com o frio] tem uma melhoria, em relação ao pessoal que não tratou, quase inexistente. Tratar ou não tratar, onde se registou frio, não veio adiantar nada”, atirou.

O responsável da ARATM prevê quebras nas zonas fustigadas entre 70% e 80% e que pode chegar aos 90% da produção.

“Nas zonas mais baixas há uma produção normal, mas menor do que em outros anos, porque não houve só estes problemas de frio, mas também na polinização, o que levou a que a maior parte dos ouriços não tenham conseguido gerar castanha no seu interior”, concluiu.

A vereadora da Câmara de Valpaços Teresa Pavão, presente na conferência de imprensa, destacou que as eventuais compensações aos produtores de castanha dependem da Direção Regional de Agricultura e Pescas do Norte (DRAPN).

“A DRAPN está sempre em sintonia com os produtores de castanha e agricultores e faz a ponte com as associações locais, desloca-se ao local, avalia o estado dos soutos e terá uma palavra final face à compensação”, sublinhou.

Na localidade de Serapicos, o casal Jaime e Sílvia Lopes, explicaram à Lusa que a produção dos seus soutos este ano teve uma grande quebra porque os ouriços “não chegaram a criar” e “as castanhas são muito pequenas”.

“Nunca houve um ano assim. Não sabemos bem se é por doença, se foi o nevoeiro ou o gelo, mas já tivemos anos com dois mil quilos e este ano não sei se chegamos aos 400 quilos”, realçaram.

Já em Argemil, ainda no concelho de Valpaços, Maria Pinto apontou que a sua produção será de um terço face ao que é habitual.

“A folha está amarela, parece que ardeu. Os soutos estão secos. Pensámos em trocar para outro fruto mas a castanha é o ouro daqui”, frisou.



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