O Distrito de Bragança registou um aumento da natalidade no último ano, mas quase um terço das crianças nasceram fora da região, em Vila Real, consequência do encerramento da maternidade de Mirandela a 11 de Setembro de 2006.
De acordo com dados disponibilizados à Lusa pelas maternidades de Bragança e Vila Real, desde 11 de Setembro de 2006 até à última semana de Agosto, nasceram no Distrito de Bragança mais 12 crianças que em igual período anterior ao encerramento da maternidade de Mirandela.
Porém, enquanto que no anterior período apenas 52 dos 745 partos foram feitos fora da região, no último ano 239 das 757 grávidas do Distrito de Bragança «fugiram» para Vila Real.
Os concelhos de Mirandela, Carrazeda de Ansiães e Vila Flor, servidos pela extinta sala de partos, foram os que mais recorreram à maternidade de Vila Real.
A maternidade de Vila Real aumentou em 400 o número de partos, passando de 1.293 para 1.693 e ultrapassando a barreira dos 1.500 considerada tecnicamente segura para o funcionamento de uma sala de partos.
Para este aumento contribuíram, além das 293 grávidas de Bragança, 374 do Distrito de Viseu, deslocadas com o encerramento da maternidade de Lamego.
Por outro lado, nasceram na maternidade de Vila Real menos 80 crianças do próprio Distrito.
A proximidade geográfica é uma das justificações apontadas para a adesão a Vila Real, mas, no caso de Bragança, o director clínico do Centro Hospitalar do Nordeste (CHNE), Sampaio da Veiga, admite que também contribuiu a «emotividade» que envolveu o encerramento da sala de partos de Mirandela.
No Distrito de Bragança resta uma sala de partos, localizada na capital de distrito, onde nasceram no último ano 518 crianças.
O CHNE, responsável pela maternidade, justifica a decisão de encerrar Mirandela, apesar da localização mais central em relação ao resto da região, alegando que as grávidas do norte do Distrito ficariam em desvantagem se a decisão fosse inversa.
Segundo Sampaio da Veiga, os concelhos servidos anteriormente por Mirandela podem recorrer a Bragança ou Vila Real, enquanto que nos do Norte, a distância em relação ao ponto mais próximo seria muito maior.
Talvez por isso nenhuma grávida dos concelhos mais próximos da fronteira, como Miranda do Douro e Vimioso tenha recorrido a Vila Real, enquanto que em Bragança forma realizados 46 partos destes dois concelhos.
Curiosamente o concelho mais afastado da maternidade em Bragança, o de Freixo de Espada à Cinta, prefere a capital de Distrito, com 13 partos contra quatro em Vila Real.
Mirandela é o concelho de onde partem mais grávidas para o distrito vizinho, 114, mais 99 do que antes do encerramento da maternidade.
A sala de partos de Bragança foi escolhida por 26 grávidas de Mirandela.
O director clínico do CHNE está convencido de que «começa a haver uma mudança de comportamentos e aceitação da situação» (encerramento da maternidade), muito graças à confiança nos profissionais de Mirandela que prestam também serviço na maternidade de Bragança.
Apesar do encerramento da sala de partos, o hospital de Mirandela mantém os serviços de ginecologia e obstetrícia com o acompanhamento de toda a gravidez.
«A seguir a uma fase muito emotiva, as pessoas começam racionalmente a aceitar que podem vir ter os seus filhos aqui e que, apesar de tudo, é mais fácil viajar dentro do Distrito», afirmou.
A caminho da maternidade de Vila Real, já nasceram no IP4, este ano, dois bebés de Mirandela, episódios que o director clínico atribuiu «não ao encerramento da maternidade mas a casos de »mulheres que não procuram acompanhamento com assiduidade«.
Segundo Sampaio da Veiga, um acompanhamento correcto permite »alguma previsibilidade« para a data do parto e para a entrada atempada da grávida na maternidade.
O director clínico lembrou que, de acordo com a legislação, a grávida tem o direito de escolher onde quer ter o filho, mas o transporte do domicílio para a maternidade é da sua responsabilidade.
Quando accionados os meios de socorro a situação passa a ser tratada como qualquer outra emergência e a grávida terá de seguir para onde for encaminhada por decisão clínica e já não segundo a sua preferência.
Apesar de a maternidade de Bragança realizar apenas um terço do número considerado tecnicamente aceitável para o funcionamento de uma sala de partos, Sampaio da Veiga acredita que Distrito não perderá a única sala de partos.
«As distâncias a que as pessoas tinham de se submeter justificam a manutenção e evitam que se encerrem serviços, mesmo que os números não o justifiquem»,a firmou.