O presidente da Câmara de Vila Real afirmou hoje ter um “sentimento duplo” sobre a demolição da panificadora de Nadir Afonso, “de pena” por não ter sido possível recuperar e “de alívio” porque era "uma lixeira".

“Tenho um sentimento duplo, por um lado de pena porque não foi possível recuperar, mas, por outro lado, também de alívio porque aquilo era uma lixeira, tinha amianto, era um sítio mal frequentado e um sítio que, numa entrada da cidade de Vila Real, não trazia uma boa imagem”, afirmou Rui Santos.

Várias máquinas estão a demolir a antiga panificadora de Vila Real, a Panreal, um edifício que estava devoluto há vários anos e que marcou a carreira de Nadir Afonso, por ser sido um dos seus últimos projetos de arquitetura.

O espaço privado onde está localizado o imóvel, construído em 1965, foi adquirido pela cadeia de supermercados Lidl, mas um movimento de cidadãos há cerca de três anos que defende a recuperação do edifício.

“Tenho a certeza absoluta que o projeto que ali nascerá melhorará o aspeto daquela entrada da cidade, sobretudo se tivermos em consideração e enorme reabilitação daquele quarteirão que a Câmara Municipal está a fazer no âmbito do Plano Estratégico de Desenvolvimento Urbano (PEDU)”, referiu.

A Direção-Geral do Património Cultural (DGPC) decidiu, em abril de 2018, arquivar o procedimento de classificação para Imóvel de Interesse Público, proposto por um grupo de cidadãos, considerando que o edifício já não reúne características para uma classificação de âmbito nacional.

Em 2019, também a Câmara de Vila Real decidiu não classificar a panificadora como Imóvel de Interesse Municipal.

“A classificação obrigaria imediatamente a uma ação, a uma consequência (…). Teríamos que comprar o imóvel, arranjar dinheiro para o reabilitar e ter uma função para aquele imóvel”, salientou.

Uma operação que, segundo afirmou, “implicaria mais de quatro milhões de euros” de investimento, que “não foi considerado prioritário pela autarquia”.

“Eu percebo o sentimento e até agradeço a participação cívica desse movimento na vida de todos nós, é uma visão que eu respeito, que eu compreendo, infelizmente não foi essa visão que foi possível implementar”, referiu.

O autarca contou que os defensores da antiga panificadora “foram desafiados várias vezes a encontrar promotores privados que comprassem o espaço e fizessem aquilo que eles queriam que ali se fizesse, porque o Lidl não quis fazer”.

“Nós não mandamos no dinheiro dos outros, não mandamos no património dos outros e tivemos que aceitar o que o Lidl decidiu ali fazer, cumprindo todos os requisitos legais”, concluiu.

O Lidl Portugal já explicou que a aquisição do imóvel se inclui no projeto de renovação da loja de Vila Real e adiantou que o tempo previsto de obra é de sete meses.

O projeto, cujo licenciamento foi aprovado por unanimidade pelo executivo municipal, prevê a demolição de dois edifícios existentes, a atual loja e a Panreal (como é conhecido localmente), e a sua substituição por um outro com maior área.

O Lidl sublinhou ainda que, ao longo deste processo, desenvolveu “múltiplos esforços ao reunir com a família e a Fundação Nadir Afonso, sempre com uma intenção clara de incluir uma componente de homenagem e memória do pintor”.

“À data nenhumas das nossas sugestões foi aceite”, frisou a empresa.

Por sua vez, a viúva de Nadir Afonso afirmou que “nunca foi apresentado um projeto com dignidade”.



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