O presidente da Câmara de Boticas considerou hoje mais “uma machadada” na coordenação da Proteção Civil a reorganização que vai criar os comandos sub-regionais e põe fim aos atuais comandos distritais de operações e socorro (CDOS).
“É uma machadada na Proteção Civil, na coordenação da Proteção Civil, porque os CDOS estavam entrosados e com conhecimento de causa”, afirmou à agência Lusa Fernando Queiroga, que é também vice-presidente da Federação dos Bombeiros do Distrito de Vila Real.
Este distrito vai ficar dividido em três comandos sub-regionais, o Alto Tâmega com seis concelhos, Mondim de Basto vai para o Alto Ave e os restantes sete juntam-se na sub-região do Douro que irá agregar um total de 19 municípios (dos distritos de Vila Real, Viseu, Guarda e Bragança).
A nova lei orgânica da ANEPC entrou em vigor em abril de 2019, tendo ficado decidido que a nova estrutura regional e sub-regional entrava em funcionamento de forma faseada.
Os comandos regionais já foram nomeados, faltando a criação dos 23 comandos sub-regionais de emergência e proteção civil em vez dos atuais CDOS, o que está previsto na proposta do Orçamento do Estado para 2022 e deverá acontecer no início do próximo ano.
“Havia já esta proximidade e afinidade em termos distritais, onde as corporações se ajudavam umas às outras. Como é que depois para uma ocorrência em Mesão Frio se vai pedir a Freixo de Espada à Cinta? Não há afinidade, não há entendimento”, salientou, referindo-se a concelhos que irão integrar o comando sub-regional do Douro.
O autarca tem dúvidas sobre a operacionalidade destes comandos sub-regionais e criticou “o acréscimo de burocracia” em que, numa ocorrência em que seja preciso um reforço de meios, o comando sub-regional tem de pedir ao comando regional para este decidir.
“É uma péssima decisão do Governo”, frisou.
Fernando Queiroga considerou que o sistema, tal como está no distrito de Vila Real, está a funcionar “muito bem”, e aproveitou para enaltecer o trabalho que tem sido desempenhado pelos comandantes operacionais distritais (CODIS), Álvaro Ribeiro e Manuel Borges Machado, que pediram a exoneração do cargo e cessam funções no final do mês.
“Estavam sempre disponíveis, sempre prontos e tinham conhecimento de causa, e agora vamos perder isto tudo”, referiu.
Na quinta-feira, a Federação dos Bombeiros do Distrito de Vila Real divulgou uma carta através da qual apela à continuidade em função dos dois comandantes operacionais distritais e argumentam com “a unidade e proximidade” que os dois conseguiram com todos os agentes de Proteção Civil, em particular com os corpos de bombeiros.
Contactado pela Lusa, Álvaro Ribeiro, comandante operacional distrital de Vila Real desde 2013, confirmou o pedido de exoneração “por vontade própria”. Também de saída está o segundo-comandante operacional distrital, Manuel Borges Machado, que confirmou o pedido de exoneração e a saída a 31 de outubro do lugar que ocupa há quase seis anos.
O presidente da Câmara de Boticas referiu que o “elemento mais forte que está sempre presente em todos os teatros de operação são os bombeiros” e, por isso, disse que é preciso “alguma sensibilidade para tratar” com estes voluntários.
“E nós tínhamos isso nos dois CODIS, que foram comandantes de bombeiros e tinham essa experiência, afinidade e proximidade com as associações de bombeiros”, acrescentou.
Fernando Queiroga criticou ainda as medidas que têm sido implementadas pelo Governo de António Costa nesta área, nomeadamente a constituição da Agência para a Gestão Integrada de Fogos Rurais (AGIF), em 2018, que considera que criou “entropias na Proteção Civil e, fundamentalmente, no combate aos incêndios”.
“Estão a trabalhar já há três anos e não se lhe reconhece trabalho nenhum, têm feito recolha de dados que já são feitos por outras entidades. Estão os nossos impostos a suportar o vencimento desta gente que não faz rigorosamente nada, só cria entropias e só não houve mais azares este verão porque o São Pedro foi nosso amigo”, afirmou.