O presidente da Câmara de Boticas está preocupado com o impacto das minas de lítio, previstas para este concelho e Montalegre, no rio Beça e no centro de reprodução do mexilhão-de-rio, espécie rara que inviabilizou uma barragem.

“Mostrei a minha preocupação relativamente às iniciativas de exploração de lítio em Boticas e em Montalegre, que também irá afetar o nosso concelho, porque põem em causa uma série de investimentos de milhões de euros feitos pela Iberdrola, nomeadamente na preservação da ‘margaritífera’”, afirmou hoje à agência Lusa Fernando Queiroga.

Boticas, no distrito de Vila Real, acolhe um centro reprodutor do mexilhão-de-rio (margaritífera margaritífera) que visa a preservação do bivalve que inviabilizou a construção de uma barragem em 2009, prevista no âmbito do Sistema Eletroprodutor do Tâmega (SET).

O autarca elencou ainda possíveis impactos da exploração mineira no Parque Natureza e Biodiversidade e no rio Beça, que nasce na serra do Barroso, em Montalegre, atravessa Boticas e vai desaguar na margem direita do rio Tâmega, perto de Ribeira de Pena.

“Uma vez que não está salvaguardada a descontaminação dos escorrimentos das minas, a minha preocupação é relativa à qualidade das águas, mas também do prejuízo que poderá ter no projeto de preservação daquela espécie, que sabemos que é muito frágil e sensível. Se as águas forem contaminadas pura e simplesmente desaparece”, frisou.

Para Boticas está prevista a construção da mina do Barroso, junto a Covas do Barroso, e para Montalegre a mina do Romano, perto de Morgade. Em Boticas aguarda-se a Declaração de Impacte Ambiental (DIA) pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA) e, em Montalegre, o Estudo de Impacte Ambiental (EIA) está em consulta pública até 10 de maio.

O rio Beça, que atravessa o Boticas Parque, é muito procurado por pescadores e ali são feitos repovoamentos de trutas dos viveiros instalados no próprio parque.

A construção do centro reprodutor do mexilhão-de-rio, também no Parque de Natureza e Biodiversidade, resultou, precisamente, das contrapartidas pagas pela Iberdrola pela construção do SET, que inclui as barragens do Alto Tâmega, Gouvães e Daivões.

O projeto inicial do SET previa a construção de quatro barragens, mas a descoberta do mexilhão-de-rio no rio Beça inviabilizou a barragem de Padroselos, que iria localizar-se junto a Covas do Barroso.

Trata-se de um bivalve não comestível, que se encontra protegido por uma diretiva comunitária. É uma espécie ameaçada que chegou a ser dada como extinta em Portugal no início do século XX, tendo sido redescoberta de uma forma fortuita em 2009, em Boticas.

As preocupações do autarca foram reveladas durante a reunião da Comissão de Acompanhamento Ambiental (CAA) do SET, que se realizou na quinta-feira, e onde foi abordada, mais uma vez, a questão da ponte de arame que serve de travessia pedonal entre as localidades de Veral (Boticas) e Monteiros (Vila Pouca de Aguiar), afetada pela barragem do Alto Tâmega.

Fernando Queiroga referiu que a APA “concordou” com a reclamação de reposição da passagem pedonal no sítio onde existe a ponte de arame, bem como com a passagem rodoviária pelo paredão da barragem.

A Iberdrola terá, agora, que se pronunciar e o tema voltará a estar em cima da mesa numa próxima reunião agendada para 22 de abril.

População e autarcas dos dois concelhos reivindicam a reposição da travessia desde que se soube que a ponte pedonal iria ser retirada, sem uma alternativa para o atravessamento do rio Tâmega.

A ponte de arame entre Veral e Monteiros está contemplada na DIA, mas apenas como um “elemento patrimonial”, pelo que, a concessionária Iberdrola teria apenas de a recolocar num outro local.



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