O presidente da Câmara Municipal de Montalegre, Orlando Alves, que está este fim de semana em Paris para passar o São Martinho com os emigrantes, apresentou queixa por difamação contra o seu adversário nas autárquicas, Carvalho de Moura.

Orlando Alves acusou o candidato do PSD às eleições de ter provocado um "enxovalho enorme a Montalegre" e de ser "o autor de toda esta encenação", em referência à reportagem do programa 'Sexta às 9' da RTP que levantou suspeitas de fraude eleitoral no concelho de Montalegre e levou à abertura de um inquérito pelo Ministério Público.

"[Apresentei queixa] contra o candidato do PSD porque foi ele quem organizou e preparou a entrada deste assunto no programa televisivo da RTP e também pelas declarações que ele fez no jornal dele onde insiste na fraude", afirmou Orlando Alves, precisando que a queixa deu entrada no Tribunal de Montalegre "há mais de uma semana".

Quando questionado sobre o inquérito aberto pelo Ministério Público, na sequência da reportagem da RTP que mostrou emigrantes recebidos no aeroporto Francisco Sá Carneiro por um presidente de uma junta de freguesia e transportados para a freguesia onde votariam, Orlando Alves respondeu que "é bom que se investigue".

"Ouço dizer que sim e é bom que se investigue e é bom que seja penalizado quem põe no ar notícias e considera a presença dos emigrantes na eleição dos seus representantes locais uma fraude", apontou, acusando Carvalho de Moura de ter ido a Londres "mobilizar emigrantes para votar nele" e negando ter feito ações de campanha em Londres ou em Paris.

O presidente da Câmara Municipal de Montalegre rejeitou estar, hoje, na região parisiense para agradecer aos emigrantes e considerou que o voto deles não influenciou "absolutamente nada" a sua reeleição porque a sua "estrondosa vitória estava há muito anunciada".

"Vim ao magusto como venho todos os anos, convidado por um grande empresário que reúne 600 pessoas, muitas naturalmente do concelho de Montalegre, outras não (...) para retribuir com a minha presença a quem faz questão e tem muita vaidade em ter no evento que organiza a presença do presidente da Câmara da sua terra", declarou, indicando que vai duas vezes por ano à região de Paris para o magusto e a Feira de Nanterre.

Orlando Alves falou em "facécia" e disse que as acusações de fraude eleitoral são "uma afronta, uma indignidade e um insulto aos emigrantes".

"Nesta curta passagem por Paris, tenho sentido dos emigrantes uma tremenda revolta e uma sofrida injustiça, acompanhada do desabafo feito promessa de que aqui por quatro anos lá estarão, mas agora não será um autocarro, serão muitos autocarros", afirmou.

Questionado sobre quem aluga esses autocarros, Orlando Alves disse não saber nem ter "nada a ver com isso" e respondeu também não saber se o transporte é gratuito para os emigrantes irem votar, considerando apenas que "supostamente são pagos porque ninguém anda naturalmente a transportar pessoas do aeroporto para Montalegre por simpatia".

O programa 'Sexta às 9', da RTP, mostrava emigrantes a chegarem ao aeroporto onde tinham à sua espera o presidente da junta da União das Freguesias de Meixedo e Padornelos, recandidato nas listas do PS para o concelho de Montalegre, distrito de Vila Real.

O 'Sexta às 9' relatou ter encontrado, no dia da votação, os mesmos emigrantes a votarem nessa freguesia onde o presidente de junta acabou por ser reeleito.

Em reportagem num terreno de petanca às portas de Paris, a Lusa ouviu, em meados de outubro, alguns emigrantes dizerem que no fim de semana das autárquicas há viagens pagas para vários concelhos do norte de Portugal.

"Castelito", oriundo da aldeia de Santulhão, no concelho de Vimioso, distrito de Bragança, tinha um boné onde se lia "Jorge Fidalgo Presidente Vimioso" e afirmou: "Pagaram-me a viagem, fui de camioneta e fui votar porque sou português, tenho direito e é pelo meu país".

Ao seu lado e da mesma aldeia, Casimiro Gonçalves - que foi votar há quatro anos, mas não este ano - sublinhou que o voto dos emigrantes tem peso porque na sua terra "é tudo emigrante" e disse que "não é segredo para ninguém que há autocarros à disposição e só vai quem quer".



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