A presidente da Câmara de Vila Pouca de Aguiar quer esclarecimentos e apurar responsabilidades por considerar que houve omissão de auxílio e desvio de meios durante o combate aos incêndios que atingiram o concelho.

“Houve aqui efetivamente uma omissão de meios para virem em auxílio de Vila Pouca de Aguiar, além de que houve também a retirada de meios no terreno sem qualquer justificação aparente ou mais gravosa que o justificasse. A meu ver, isso é omissão de auxílio, desvio de meios e as autoridades, efetivamente, terão que averiguar, investigar e ver o que é que se passou”, afirmou hoje à agência Lusa Ana Rita Dias.


A autarca disse estar a recolher dados para fazer uma exposição às autoridades competentes, como o ministério da Administração Interna, a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC) e eventualmente, dependendo das informações apuradas, a Procuradoria-Geral da República.

Os quatro fogos que deflagraram na segunda-feira, no concelho de Vila Pouca de Aguiar, e posteriores reativações, estão hoje, ao quinto dia, em fase de resolução e de conclusão.

Para trás ficaram cerca de 10.000 hectares de área ardida, uma casa destruída e um desalojado, e ficaram também pedidos insistentes de reforço de meios terrestres e aéreos por parte de Ana Rita Dias e do comandante dos bombeiros de Vila Pouca de Aguiar, Hugo Silva.

Na quarta-feira, ao final da tarde, atuaram oito aviões na frente de Sabroso de Aguiar, e em alguns momentos foram acionados helicópteros, como na quinta-feira à tarde em Sabroso de Aguiar, a frente que continuava a dar mais trabalho aos operacionais.

“Vou efetivamente fazer chegar a quem de direito a situação que ocorreu em Vila Pouca de Aguiar, as várias situações, que a meu ver são graves. Nós poderíamos ter controlado toda esta situação logo no primeiro dia de incêndio, na segunda-feira. Não vieram os meios”, referiu a presidente.

Ana Rita Dias concretizou que havia meios terrestres que poderiam ter ajudado - que estavam na base de apoio logístico, em Vila Real - e que não foram autorizados a ir para Vila Pouca de Aguiar.

“E isso terá que ser apurado e teremos que verificar o que aconteceu e porque é que aconteceu. Na segunda-feira, que eu tenha conhecimento, os incêndios ativos [[na região] eram os de Vila Pouca de Aguiar e o que aconteceu foi que não permitiram que os meios viessem”, frisou.

Mas, na sua opinião, “mais grave ainda” foi não ter sido autorizada a permanência de bombeiros, que foram dar apoio numa altura em que um fogo ameaçava casas, tendo sido pedido, depois, que ficassem a ajudar a controlar um outro incêndio.

“Disseram para voltar à base e ficar na base a aguardar novas indicações. Portanto, foi desmobilizado um meio para a base, não para outro combate de incêndio, não percebemos como é que isso aconteceu, não percebemos porque é que isso aconteceu e isso terá que ser devidamente justificado”, afirmou Ana Rita Dias.

A autarca disse que os fogos queimaram “cerca de 20% da área do concelho”, maioritariamente floresta, mas também propriedade agrícola, como soutos, ainda vários armazéns agrícolas e um industrial.

Acrescentou que produtores perderam a reserva de alimento dos animais para o inverno, como palhas e fenos, muitas áreas de pastagem ficaram queimadas, tal como muitas colmeias.

Houve também danos a nível de reservatórios de água, situações que, segundo referiu, terão de ser agora acauteladas.

“Estamos a fazer o levantamento mais pormenorizado para conseguirmos fazer também, depois, uma estimativa total de custos”, frisou.

O alerta para o primeiro incêndio em Vila Pouca de Aguiar foi dado pelas 07:30 de segunda-feira, em Bornes de Aguiar, e a situação foi-se agravando ao longo desse dia, com mais três fogos em, Telões, Vreia de Jales Sabroso de Aguiar, o último dos fogos a ser dominado, na quinta-feira à noite.

Sete pessoas morreram e 161 ficaram feridas devido aos incêndios que atingem desde domingo sobretudo as regiões Norte e Centro do país, nos distritos de Aveiro, Porto, Vila Real, Braga, Viseu e Coimbra, e que destruíram dezenas de casas.

A área ardida em Portugal continental desde domingo ultrapassa os 121 mil hectares, segundo o sistema europeu Copernicus, que mostra que nas regiões Norte e Centro já arderam mais de 100 mil hectares, 83% da área ardida em todo o território nacional.

O Governo declarou situação de calamidade em todos os municípios afetados pelos incêndios nos últimos dias e hoje dia de luto nacional.



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