Os produtores e comerciantes de azeite afirmam que os galheteiros de muitos restaurantes contêm um produto adulterado e querem regras para proibir o consumo não identificado daquele óleo de azeitona.

"Na melhor das hipóteses, o azeite consumido à mesa dos restaurantes é misturado com óleo", acusou em entrevista à Lusa o presidente da Casa do Azeite (Associação do Azeite de Portugal), Pedro Cruz, que representa de 95 por cento da comercialização e metade da produção nacional do sector.

Pedro Cruz baseia as acusações na experiência dos 72 associados da Casa do Azeite, "que também vão a restaurantes de todas as classes e sabem reconhecer o que é um azeite".

"Há um problema de fiscalização, até porque não se pode actuar. O dono do restaurante pode mostrar aos inspectores a garrafa do azeite, da qual supostamente foi enchido o galheteiro, e transfere a responsabilidade para o produtor. Não há como provar", explica.

O ministério da Agricultura reconhece que, nesta área, os direitos do consumidor não estão protegidos e anunciou que está a elaborar um diploma para obrigar a uma identificação dos azeites na restauração.

"Estamos a preparar uma portaria, que vai ser publicada em breve, para obrigar a uma identificação dos azeites na restauração", disse hoje à agência Lusa Paiva Caldeira, do gabinete de Planeamento e Políticas Agro Alimentares do Ministério da Agricultura.

O diploma vai obrigar os restaurantes a comercializar o azeite em garrafas invioláveis, nas quais o líquido pode ser retirado mas nada pode ser introduzido, um sistema parecido com o das garrafas de whisky.

"Tem de ser um fecho inviolável, mas o usado nas garrafas de whisky levanta alguns problemas, nomeadamente de custos elevados para o sector. Estamos a estudar a melhor forma de ultrapassar esses problemas", adiantou Paiva Caldeira.

A Casa do Azeite lembra que, há algumas décadas, os restaurantes punham nas mesas um prato com um pedaço de manteiga e um jarro de vinho, e que hoje ambos os produtos são oferecidos em embalagens invioláveis na maioria dos estabelecimentos hoteleiros.

"No azeite, estamos 20 anos atrasados face aos outros sectores", afirma o presidente da Casa do Azeite, alertando para os perigos que os consumidores incorrem ao comprar "gato por lebre".

Em 1981, em Espanha, morreram mais de 45 pessoas e oito mil sofreram intoxicações, por envenenamento alimentar devido à mistura no azeite de óleo de colza, um óleo industrial, não refinado, que é tóxico.

A polícia espanhola acabou por descobrir várias instalações, nos arredores de Madrid, nas quais era engarrafado o azeite falsificado e confiscou grandes quantidades do produto adulterado.

Onze anos depois, alguns dos afectados por aquela doença tóxica vieram a público dizer que continuavam à espera de ser indemnizados e calculavam que o azeite adulterado já tinha provocado a morte de 987 pessoas em Espanha.



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