A bactéria 'Xylella fastidiosa', detetada há quatro anos em Portugal e associada a doenças que foram “devastadoras para a agricultura”, já levou à criação de sete Zonas Demarcadas a Norte, afetando a produção de “espécies de elevado valor económico”.

Classificada como "bactéria de quarentena" pela Organização Europeia para a Proteção das Plantas (EPPO), em Portugal, a 'Xylella fastidiosa' foi detetada, em janeiro de 2019, em plantas de lavanda num 'zoo' em Vila Nova de Gaia, no Porto.

A sua deteção levou à definição da primeira zona demarcada do país - a Área Metropolitana do Porto (AMP) – e, desde então, a região Norte conta já com sete zonas demarcadas: AMP, Alijó, Baião, Bougado, Mirandela e Mirandela II, e Sabrosa.

Cientificamente classificada como uma "bactéria grã-negativa que tem uma relação endofítica com a planta", a Xylella fastidiosa "vive dentro da planta", mais concretamente, nos vasos xilémicos que transportam água e nutrientes das raízes para os caules e folhas, explicou à Lusa Ana Aguiar, professora da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto.

A sua transmissão pode decorrer da atividade humana, através do transporte de plantas contaminadas, mas também de uma planta infetada para uma planta sã, através de insetos como a cigarrinha das espumas, que perfura o xilema da planta para extrair água e nutrientes.

Árvores, arbustos e plantas herbáceas - vulgares em espaços urbanos e rurais ou de “elevado valor económico” - podem ser hospedeiras desta bactéria, tais como a oliveira, videira, amendoeira, citrinos, sobreiro, acácia, nogueira, plátano, rosmaninho ou alecrim.

Segundo Ana Aguiar, esta bactéria está associada a "doenças que foram devastadoras para a agricultura", como a doença de Pierce (causa da destruição, no século XIX, de milhares de hectares de vinha na Califórnia, nos Estados Unidos da América) ou a doença da clorose variegada dos citrinos (que no final do século XX dizimou milhares de laranjeiras na Baía, no Brasil).

"Há por isso receio que esta bactéria, que surge associada a doenças de plantas com elevada importância económica, se espalhe e seja causa de prejuízos na agricultura em Portugal e noutros países da Europa", observou a investigadora do centro GreenUPorto e doutorada em Engenharia Agronómica.

De acordo com o plano de ação para a erradicação da 'Xylella fastidiosa', da Direção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV), na Zona Demarcada na AMP "foram detetados focos em espaços públicos, jardins particulares e vegetação espontânea" nos concelhos de Espinho, Gondomar, Maia, Matosinhos, Porto, Santa Maria da Feira e Vila Nova de Gaia.

Nestes territórios, a bactéria foi detetada em várias espécies vegetais, tais como o castanheiro, limoeiro, laranjeira, ácacia-mimosa, erva-das-pampas, estrelícia e videira.

Em Baião (distrito do Porto), a 'Xylella fastidiosa' infetou plantas da espécie piracanta, tendo a DGAV estabelecido a Zona Demarcada a 14 de novembro de 2022.

Depois de detetada 'Xylella fastidiosa' em oliveiras, a DGAV estabeleceu a 21 de novembro de 2022 a Zona Demarcada de Mirandela (distrito de Bragança). Um mês depois, a confirmação da presença da bactéria em rosa da síria, levou a DGAV a estabelecer a Zona Demarcada de Mirandela II.

Em Alijó (distrito de Vila Real), a Zona Demarcada foi estabelecida por despacho a 19 de dezembro de 2022 depois de detetada 'Xylella fastidiosa' em pessegueiros.

Já este ano, a DGAV estabeleceu, a 17 de janeiro, a Zona Demarcada de Bougado (no concelho da Trofa) depois de detetada 'Xylella fastidiosa' em alecrim e, a 09 de fevereiro, a Zona Demarcada de Sabrosa (distrito de Vila Real) depois de detetada em carvalho-negral.

As Zonas Demarcadas estabelecidas pela DGAV compreendem as "Zonas Infetadas", que incluem todos os vegetais que se encontram num raio de 50 metros da planta infetada, e a "Zona Tampão" de, pelo menos, 2,5 quilómetros, circundando a zona infetada.

A destruição imediata no local, a proibição de plantação dos vegetais suscetíveis à bactéria, a proibição do transporte para fora da Zona Demarcada de qualquer vegetal destinado à plantação e a proibição de comercialização em feiras e mercados de qualquer vegetal, destinado à plantação e suscetível à bactéria são algumas das medidas de erradicação da 'Xylella fastidiosa'.


Investigadora diz que medidas para erradicar 'Xylella fastidiosa' "não são adequadas"

Uma investigadora da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto afirmou hoje que as medidas de erradicação da Xylella fastidiosa "não são as adequadas", defendendo que as plantas que não manifestam danos podem ser fundamentais para resolver o problema.

Em declarações à agência Lusa, a investigadora Ana Aguiar do centro GreenUPorto e docente na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP), salientou que "destruir plantas que não manifestam danos [depois de infetadas pela 'Xylella fastidiosa'] poderá ser um erro".



PARTILHAR:

PSD questiona qual o "real compromisso” do Governo na reativação da Linha do Douro

Sabrosa lança debate sobre riscos para promover segurança no Douro