Alguns dos ex-libris turísticos de Ribeira de Pena vão ser afectados pela construção das barragens no Tâmega. Além da Ponte de Arame, que terá de ser deslocalizada, desaparecerá a «Ilha dos Amores», um local evocado na obra de Camilo Castelo Branco.

Se Camilo Castelo Branco ressuscitasse e regressasse a Friúme, em Ribeira de Pena, onde viveu durante pouco mais de um ano, e visitasse a \"Ilha dos Amores\", teria, porventura, um colapso. O acesso à idílica ilhota do Tâmega de que Camilo fala na sua obra e, onde, provavelmente, terá vivido o seu amor com a ribeirapenense Joaquina Pereira França, é quase impossível devido à vegetação que cresce desregrada.

Maria dos Anjos Barbosa, de 69 anos, familiar já muito afastada de Joaquina, com quem Camilo viria a casar, lamenta o actual estado do local, \"porque agora ninguém limpa nada\", mas guarda na memória, quando, na sua juventude, a ilha estava \"limpinha\" e para lá iam namorar e tomar banho. De combinação. \"Os nossos pais não nos deixavam andar descascadas\", recorda, a rir-se. A Ilha dos Amores, embora pouco acessível, faz parte da memória colectiva de Friúme e, pela sua associação a Camilo Castelo Branco, é um emblema turístico de Ribeira de Pena.

O local faz, aliás, parte do Roteiro Camiliano, uma iniciativa da Câmara, destinado a turistas e que inclui um conjunto de locais relacionado com a passagem do escritor pelo concelho. No entanto, se a barragem de Daivões, integrada na cascata de albufeiras prevista para o Tâmega e afluentes, for construída, o local ficará submerso.

Mas a Ilha dos Amores não é o único símbolo turístico de Ribeira de Pena que a barragem vai pÎr em causa. A Câmara elaborou, aliás, um documento, onde elencou todo o património no âmbito da estratégia delineada para a o sector do turismo com o qual a barragem vai \"colidir\". A lista foi apresentada no âmbito do parecer que a Câmara remeteu ao Governo no âmbito do processo de discussão pública sobre a construção dos empreendimentos e que terminou no passado dia 14 de Abril. A decisão do Governo sobre a construção ou não deverá ser conhecida em Junho.

A barragem vai fazer desaparecer, pelo menos do sítio actual, a Ponte de Arame, um dos ex-libris. Com quase cem anos, a travessia foi a primeira ligação entre duas freguesias, Salvador e Santo Aleixo. Até então, a passagem era feita através de poldras. O problema é que no Inverno, o rio subia as populações ficavam isoladas. A ideia de construção da ponte foi de um pároco que, num Natal, decidiu passar o bacalhau para o outro lado da margem através de um cabo de arame e uma roldana. A ponte deverá ser deslocalizada.

Além disso, com a barragem vão também ficar comprometidos vários percursos pedestres, parques de lazer e campismo e a Rota do Pão, um projecto em desenvolvimento e que prevê a recuperação de 13 moinhos e um pisão. E também colidirá com o desenvolvimento da segunda fase do Pena Aventura Park, um projecto privado na área dos desportos de natureza.

O presidente da Câmara, Agostinho Pinto, acredita que o \"mal será menor, se a barragem tiver aproveitamento turístico\". O que o preocupa são os que vão ser desalojados.



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