Em Ribeira de Pena, a construção das barragens da 'cascata do Tâmega' já mexe com a economia local, em restauração, empregos e arrendamentos, mas há também preocupações entre os moradores que vão perder casas e terrenos agrícolas.

Viela é uma das aldeias do concelho de Ribeira de Pena, distrito de Vila Real, que vão ser mais afetadas pela construção da barragem de Daivões, incluída no Sistema Eletroprodutor do Tâmega.

Está localizada mesmo junto ao Tâmega e, do lado de lá do rio, podem ser observados os trabalhos de construção de um túnel de grandes dimensões que vai servir as barragens.

"Estava na Suíça, fiz as malas há uns anos para vir viver para Viela e, agora, vou ter que as voltar a fazer para sair daqui", lamentou José Almeida Fernandes.

A sua casa, que comprou há 24 anos, vai ser uma das primeiras afetadas pela subida das águas e, segundo o morador, a negociação com a elétrica espanhola Iberdrola quanto à indemnização ainda não está fechada.

José Fernandes critica ainda os trabalhos do outro lado do rio, que começaram há cerca de um ano e decorrem a bom ritmo, por causa "dos rebentamentos dentro do túnel, que acontecem a qualquer hora da noite e não deixam ninguém descansar".

"Temos as casas a rachar e, para além disso, não conseguimos descansar", frisou.

O Estudo de Impacte Ambiental (EIA) das barragens do Alto Tâmega indica que são mais de 70 as habitações que estão em área inundável em Ribeira de Pena.

Na pequena aldeia de Viela serão entre 13 e 15, dependendo da cota da barragem, mais a estrada de acesso e 80% de toda a sua área.

Na Declaração de Impacte Ambiental (DIA) é mesmo referida a necessidade de se estudar a viabilidade futura da aldeia.

O Sistema Eletroprodutor do Tâmega contempla três barragens, a de Daivões, que será a primeira a ser construída e cujos trabalhos deverão começar lá para o verão, ainda a de Gouvães e a do Alto Tâmega.

Através da construção do paredão ou da albufeira dos empreendimentos, Ribeira de Pena vai ser um dos concelhos mais afetados.

"Agora, com o início das obras da barragem já se nota algum impacto. Já se vê mais gente, mais movimento, já se vê mais gente nos comércios, há pessoas a arrendar casas e quartos e mesmo para os de cá já vai havendo algum emprego", afirmou o presidente da Junta de Freguesia de Santa Marinha, Domingos Teixeira.

O autarca referiu que a economia local "estava muito parada" e, por isso, é com satisfação que está a assistir a um maior movimento pelo concelho, onde as empresas afetas ao empreendimento "estão também a recrutar pessoas".

Paula Pinheiro trabalha numa churrasqueira em Venda Nova e diz que, por causa dos trabalhos nas barragens, os clientes "mais do que duplicaram" neste estabelecimento, que serve as refeições tanto no próprio espaço como as leva à zona do túnel.

"Está a ser bom para o negócio e nota-se também que há gente pela terra, muitos espanhóis, engenheiros ou operários", salientou.

O autarca Domingos Teixeira quer acreditar que, depois de construídas, as barragens vão ajudar a atrair mais visitantes a este concelho.

O Governo anunciou na terça-feira que decidiu cancelar a construção das barragens do Alvito e de Girabolhos, suspender por três anos a barragem do Fridão e manter a construção das barragens do Alto Tâmega, após concluir a reavaliação do Programa Nacional de Barragens.

Segundo a concessionária Iberdrola, as barragens do Alto Tâmega deverão estar concluídas em 2023 e o maior volume de trabalhos concentra-se entre os anos 2018 e 2020.
Lusa



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