Na sua visita institucional a Bragança, o Diário de Trás-os-Montes esteve à conversa com o Secretário-Geral da UGT, Carlos Silva, numa conhecida esplanada do centro da cidade.

 

O Secretário-Geral da União Geral dos Trabalhadores (UGT) tirou o dia de hoje, sexta-feira, 11 de março, para visitar Bragança. Com um programa repleto, Carlos Silva começou o dia na Câmara Municipal de Bragança, passou pelo callcenter da Portugal Telecom e terminou o périplo matutino no Instituto Politécnico de Bragança.

Depois de almoço, foi a vez do Centro de Arte Contemporânea Graça Morais (CACGM) ser contemplado com uma visita do homem que dá a cara pelos direitos dos trabalhadores. A meio da tarde, o Diário de Trás-os-Montes “apanhou” Carlos Silva num momento de descontração numa esplanada da Praça da Sé, onde compartilhou, num tom informal, a sua visão do mercado de trabalho em Portugal. “Continua a ser muito precário. E é preocupante, acima de tudo, a reação dos empresários que parecem, perante as dificuldades do país, depois de quatro anos de tremenda austeridade, em que há sinais do próprio Governo que quer abrandar o ritmo de austeridade e passar para uma nova fase em que quer minimizar os sacrifícios dos trabalhadores, em que há um esforço do país e do Governo e das finanças, em repor os salários da administração pública, em devolver como hoje se discutiu a questão do pagamento em novembro do subsídio de natal, a reposição dos complementos dos reformados antigos e que foram tremendamente penalizados, eu quando oiço, diante de todas estas dificuldades, os empresários a dizerem: “bem, entre o desemprego e a precariedade, realmente vale mais a precariedade”. Numa determinada fase da vida do país nós até pudemos assumir que isso era verdade, mas se me pergunta se isso continua a ser verdade, não posso deixar de dizer que não é. Neste momento, a UGT não alinha por esse diapasão.

A bitola é: o que é que temos que fazer de política públicas ativas de emprego para fazer ingressar mais gente no mercado de trabalho. Como é que nós encontramos formas de ajudar os mais jovens a encontrar estabilidade em relação à sua vida. Temos o problema do despovoamento do país, quem é que vai ter de o povoar? Não são os mais jovens?  Então como é que se fomenta a natalidade? É através da instabilidade no local de trabalho, é através da incapacidade, da imprevisibilidade de constituir família e depois não sabe se no dia de amanhã tem de comer, tem emprego, para onde é que vai e como é que vai ser o seu futuro. São estas dificuldades que nós temos vindo há muito tempo a congeminar, no sentido de tentar encontrar contributos. Não há soluções milagrosas, mas encontrar contributos no sentido de dizer ao Governo: estamos convosco no combate à precariedade, o que é que é preciso fazer para levar agora as empresas a encetar, também connosco em concertação e com o Governo, um conjunto de medidas que realmente combata a precariedade. Também é preciso vontade dos patrões. Isso é fundamental.

A UGT, sendo uma central moderada, tem que buscar o máximo de consensos possíveis entre aquilo que os patrões querem, que é tudo, e normalmente quando querem tudo, querem para si, mas quem fica sempre descompensado são os trabalhadores. Eu acho que descompensações já vivemos durante os últimos quatro anos. Neste momento, temos que reverter muito daquilo que perdemos nos últimos anos e connosco contarão, naturalmente, para repor muito daquilo que foi a injustiça social e os direitos dos trabalhadores”, defendeu o sindicalista.

Após esta pausa para uma garrafa de água e um café, teria lugar uma reunião no CACGM onde iriam estar presentes os órgãos sociais da UGT do distrito de Bragança, o Secretário-Geral da presidente da UGT, o Secretário-Geral da Federação Nacional da Educação, o Secretário-Geral do presidente da Comissão da Juventude e vários elementos do executivo nacional. “É uma reunião extraordinária de todos imbuídos no mesmo espírito. O que é que podemos fazer para acudir aos nossos sindicatos e que é que os nossos sindicatos podem fazer e que é que precisam da UGT para melhor representarem, precisamente, o mercado de trabalho dos trabalhadores desta região combatendo a precariedade, encontrando soluções com a Associação Empresarial, com a Associação Industrial, com o Politécnico e, portanto, criando estas sinergias.

Uma das questões que vamos abordar e que tenho defendido desde que sou Secretário-geral, mas como eu vivo no interior, na zona centro do país, que é Figueiró dos Vinhos, sou um defensor claro dos territórios de baixa densidade. Bragança, não sendo um território de baixa densidade, não deixa de estar longe do litoral, longe dos grandes centros urbanos. Portanto, precisa de uma descriminação positiva, seja ao nível fiscal, ao nível do investimento e isso tem que acontecer com a mobilidade com transportes, seja de avião, seja ferroviário, seja através do Túnel do Marão, seja a ligação ao TGV na Sanabria que está aqui tão perto. Portanto, cabe ao Governo português perceber que ajudando a desbravar este caminho até à Sanabria, até ao TGV, ajuda o distrito, ajuda a região de Trás-os-Montes, ajuda o país. Vamos abordar estas questões daqui a pouco, ouvir os vários setores de atividade, as principais dificuldades com que se debatem, no setor bancário, no setor financeiro, na agricultura, na indústria, no comércio e na criação de emprego. Foi por isso que eu pedi a convocação da reunião. Iremos tentar dar respostas, tomaremos notas e depois haverá uma reunião do secretariado nacional onde estas questões serão sumarizadas e tentando obter um amplo consenso dentro da central e dos seus grandes sindicatos para encontrar políticas e medidas que combatam algumas das dificuldades e ajudem a mitigar o sofrimento de muita gente”, declarou Carlos Silva, momentos antes de ter início a reunião extraordinária.

Questionado sobre se a precariedade ainda teria muito a ver com os recibos verdes, o Secretário-Geral da UGT mostrou fortes convicções relativamente ao tema. “Os recibos verdes foram um mal necessário durante muitos anos no país, também como forma, muitas vezes encapotada, de nunca criar trabalho definitivo. E, portanto, chega um momento em que se tem de dizer basta! Basta o falso recibo verde! A grande questão aqui não é o recibo verde em si próprio. É o aproveitamento fraudulento daquilo que é a maximização do recibo verde. Não se justifica que em determinados setores de atividade haja trabalhadores há 15 ou 20 anos a trabalhar com recibos verdes. Deixaram de ser verdadeiros.

Se estamos com necessidade de ter um trabalhador e se estamos com necessidade de manter um posto de trabalho permanente, então porque é que esse trabalhador não entra para os quadros da empresa com contrato sem termo e tem de continuar a andar no recibo verde? O recibo verde é um sinal de precariedade, é um sinal de injustiça e é um sinal, hoje, de um país terceiro mundista que nós queremos combater e rejeitar em definitivo. Temos de dizer aos patrões que chega deste abuso, desta chaga social dos últimos 30 anos. E vamos ver com o Governo o que é que pode ser feito para a combater”, concluiu Carlos Silva, que tudo pretende fazer para tentar contrariar o patronato.
 

 



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