O Bloco de Esquerda (BE) pediu esclarecimentos ao Ministério da Cultura sobre a demolição da antiga panificadora de Vila Real, um edifício que foi projetado por Nadir Afonso e foi adquirido recentemente por uma cadeia de supermercados.

Na semana passada, o imóvel construído em 1965 e devoluto há vários anos começou a ser demolido, estando a intervenção praticamente concluída.

Aquele espaço privado vai servir para a ampliação e renovação do supermercado Lidl na cidade transmontana.

Este edifício marca a carreira de Nadir Afonso, que se destacou como pintor, por ser sido um dos seus últimos projetos de arquitetura.

O BE, através dos deputados Alexandra Vieira, Beatriz Gomes e Jorge Costa, perguntou à ministra da Cultura, Graça Fonseca, se tem conhecimento do “processo de demolição em curso” e se tenciona adotar medidas para “travar e reverter este processo”.

A Direção-Geral do Património Cultural (DGPC) arquivou em abril de 2018 o procedimento de classificação para Imóvel de Interesse Público, proposto por um grupo de cidadãos, considerando que o edifício já não reunia características para uma classificação de âmbito nacional.

Em 2019, a Câmara de Vila Real decidiu não classificar a panificadora como imóvel de interesse municipal.

O BE quer saber se o Ministério da Cultura está “disponível, através da DGPC, para reverter o processo de arquivamento, ele próprio suscetível das maiores dúvidas e que enferma de ilegalidades, de modo a impedir a demolição deste exemplar raro e único da arquitetura modernista em Portugal”.

Perguntou ainda se o ministério pretende “aplicar o artigo 49.º da Lei de Bases do Património Cultural que se destina justamente a evitar este tipo de situações” e se tenciona “criar as orientações para a arquitetura moderna e contemporânea, a aplicar a pedidos de classificação, evitando que sejam arquivados, alegadamente, por este motivo”.

Em abril de 2017, já tinham sido demolidas partes da fachada da antiga panificadora de Vila Real.

Em junho de 2018 foi endereçada uma carta aberto ao Ministério da Cultura, assinada por mais de 800 personalidades do mundo artístico e cultural a pedir a proteção para o edifício da Panreal, como é conhecida localmente a panificadora.

O Lidl Portugal já explicou que a aquisição do imóvel se inclui no projeto de renovação da loja de Vila Real e adiantou que o tempo previsto de obra é de sete meses.

O projeto, cujo licenciamento foi aprovado por unanimidade pelo executivo municipal, prevê a demolição de dois edifícios existentes, a atual loja e a Panreal, e a sua substituição por um outro com maior área.

O Lidl sublinhou ainda que, ao longo deste processo, desenvolveu “múltiplos esforços ao reunir com a família e a Fundação Nadir Afonso, sempre com uma intenção clara de incluir uma componente de homenagem e memória do pintor”.

“À data, nenhumas das nossas sugestões foi aceite”, frisou a empresa.

Por sua vez, a viúva de Nadir Afonso afirmou que “nunca foi apresentado um projeto com dignidade”.



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