Guardas, professores ou médicos: são cada vez mais os que conciliam as suas profissões com a apicultura, uma segunda fonte de rendimento que funciona também como uma terapia para combater o «stress» do dia-a-dia.

O investigador da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), Paulo Russo Almeida, disse à Agência Lusa que a apicultura \"está a ganhar protagonismo\".

\"Concordo plenamente com a expressão de que a apicultura está na moda. Apesar de todos os obstáculos que se têm colocado, desde patologias, às condições climatéricas ou aos roubos de colónias\", salientou.

Paulo Russo Almeida considerou que a apicultura é uma atividade \"rentável\", mas com \"elevado risco\".

Desde o início do ano, cerca de 700 pessoas já participaram nos cursos de formação dados na Macmel, empresa de Macedo de Cavaleiros, que vende anualmente cerca de 200 toneladas de mel para o estrangeiro.

Um dos responsáveis pela empresa, Francisco Rogão, referiu que nestes cursos, alguns deles de iniciação à atividade e gratuitos, participam pessoas de todas as profissões, desde médicos, enfermeiros, engenheiros, agricultores ou elementos das forças policiais.

Na GNR do distrito de Vila Real, são vários os guardas que têm a apicultura como segunda atividade.

Rui Peixoto, 45 anos e militar do destacamento de trânsito, começou a interessar-se pelo mundo das abelhas quando um colega lhe ofereceu um enxame. Não tinha conhecimento nenhum sobre a apicultura e por isso foi logo comprar uma máscara e um livro.

Hoje já tem 60 colmeias e quer aumentar mais. \"Até às 300 acredito que consigo conciliar com o trabalho na GNR\", salientou.

O trabalho por turnos ajuda a conciliar as duas atividades, mas quase todo o tempo livre deste militar é dedicado às abelhas. Há sempre que fazer e durante todo o ano: desde a limpeza do material, à renovação das ceras até à cresta, quando é retirado o mel.

Para Rui Peixoto, a apicultura é uma segunda fonte de rendimento, mas é também uma terapia.

Aquilo que o fascina mais é o \"bem-estar espiritual\" que consegue adquirir quando está no monte a tratar das colmeias. \"Se formos para lá com nervos, elas apercebem-se e tornam-se muito mais agressivas\", salientou.

Joaquim Henriques, 56 anos, já tem mais anos de experiência no mundo apícola. Foi guarda-florestal e depois incorporado no Serviço de Proteção da Natureza e do Ambiente (SEPNA), em Chaves.

A paixão pelas abelhas foi-lhe transmitida pelos pais há 25 anos e hoje, aquilo que era uma simples venda de frascos de mel, transformou-se num negócio e um extra no orçamento familiar.

O guarda tem 600 colmeias espalhadas por Chaves, Montalegre e Valpaços e das quais retira, anualmente, cerca de 10 toneladas de mel que exporta para a Alemanha.

Conciliar as duas atividades, segundo referiu, \"não é fácil\", mas como trabalha por turnos tem \"alguma flexibilidade\". Além do mais conta ainda com a ajuda da mulher e do filho.

As férias são inteiramente dedicadas às abelhas. \"Tiro sempre férias em abril para fazer e a limpeza das colmeias e em setembro para retirar o mel\", adiantou.

A apicultura é uma atividade rentável, mas, afirmou, requer \"muito trabalho e dedicação\". O facto de ser guarda não impediu que também tivesse sido roubado \"algumas vezes\".



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