A segunda Bienal de Arte Contemporânea de Trás-os-Montes começa hoje e até novembro vai estender-se a mais municípios e duplicar o número de artistas.
Depois da estreia em 2022 com epicentro em Macedo de Cavaleiros “quase de forma empírica e muito em cima do joelho”, como disse a Lusa, em abril, a coordenadora executiva, Antónia Morais, segue-se esta segunda edição que teve quase dois anos de trabalho e que se alargou a concelhos vizinhos.
Além de Macedo de Cavaleiros, este ano há polos artísticos em Vinhais, Alfândega da Fé e Freixo de Espada à Cinta, todos no distrito de Bragança, “sempre ligados com a questão da sustentabilidade e do ambiente”, disse Antónia Morais.
“Intitulamo-nos de Bienal de Arte Contemporânea de Trás-os-Montes. Então, convidámos alguns municípios com quem já temos outros tipos de parcerias”, explicou Antónia Morais, acrescentando que têm o desejo de se continuar a expandir pela região.
O “título sugestivo” de “Linha de Água”, segundo Antónia Morais, continua a dar mote à bienal e surge porque o concelho pioneiro, Macedo de Cavaleiros, tem três selos UNESCO, dois dos quais ligados à sustentabilidade e ao ambiente.
“Importa-nos comunicar através da arte as preocupações ambientais e da sustentabilidade”, concretizou Antónia Morais.
Estão previstas exposições, de pintura e escultura, instalações artísticas, dança, circo contemporâneo, palestras ou oficinas, tudo acessível de forma gratuita, num programa mais vasto do que há dois anos.
“Uma preocupação gigante que temos com esta bienal é a envolvência da comunidade. As populações têm que participar. […] Queremos que as pessoas percebem que através da arte também se pode passar uma mensagem de preservação e harmonia com a Natureza”, enfatizou Antónia Morais.
Nesse sentido, Inês Falcão, diretora artística, rodeou-se de uma rede de curadores para chegar aos artistas que melhor vão ao encontro desta pretensão.
“[Pretende ser] uma bienal que agregue muitos artistas, sobretudo na comunidade. E a necessidade, até, de experimentar com a comunidade no terreno a contemplação e poder fazê-lo com os artistas residente. Esta vertente vai estar presente também no meio rural, de poder comunicar e trabalhar com os artistas e depois as obras ficarem expostas no centro das aldeias”, explicou Inês Falcão.
Na primeira edição participaram 70 artistas. Agora há já 150 artistas confirmados e o programa ainda não está fechado, com presenças de Portugal, mas também de Espanha, Reino Unido, Bélgica, Colômbia, Chile, Austrália, Porto Rico e Coreia do Sul.
Entre os nacionais, estão confirmados nomes como Jaime Silva, a comemorar 50 anos de carreira, Zulmiro de Carvalho, Isabel Sabino, Cabral Pinto, Elizabeth Leite ou Miguel Neves de Oliveira.
Miguel Moreira e Silva, nascido em Alenquer e a trabalhar em Bragança, propõe um trabalho ligado à 'land art', com “uma obra efémera que reflete sobre a limpeza florestal e o retorno à terra”, descreveu a organização, e que conta com Cláudia Pinheiro, Luís Silva e Nogueira de Barros na equipa que vai fazer uma das residências artísticas.
No panorama internacional estarão presentes, entre outros, Javier Tudela e Kiran Katara.
destaque:
• Na exposição Arte pelo Território, a curadora Ágata Rodrigues proporá uma abordagem que irá ao encontro da interligação entre o Homem e a Natureza. A exposição não destacará apenas a simbiose entre a natureza e o território de Trás-os-Montes, mas proporcionará uma reflexão profunda sobre essa ligação intrínseca, onde se destacará Armando Alves, José Maia e Elizabeth Leite;
• Jaime Silva, que celebra 50 anos de carreira, surgirá com uma aproximação aporética à arte contemporânea, com propostas artísticas de Ana Wever, Ana Lima Netto, Carlota Mantel e Amado Harris, que se destacam pela versatilidade, espiritualidade e fragilidade;
• Agarrar a Água, com curadoria de António Meireles, tomará como eixo concetual a valorização da água e das pessoas, e dos modos como lidam com ela, para focar atenção na relação entre artistas e a comunidade das aldeias que circundam a Albufeira do Azibo; estas instalações são expostas nas mesmas aldeias, permitindo que a comunidade tenha um acesso direto às obras para cuja criação foram estímulo;
• Arte Rio Acima, por sua vez, sob a curadoria de Guilherme Fonseca, destacar-se-á como um projeto-linha que procurará construir pontes entre o litoral e o interior. Com três abordagens diferentes na arte contemporânea - ilustração, vitral e têxtil - e uma premissa central de sustentabilidade, o projeto visará seguir o curso da arte, sem sentido definido, mas com todos os sentidos possíveis, assim como as linhas de água que espalharam civilizações. Dos artistas convidados, Ilídio Fontes, Ângelo Ribeiro, Luís Silva e Afonso Pinhão Ferreira;
• O projeto A Linha e seus Semelhantes, com curadoria de José Manuel Barbosa, A presente exposição encontra similitudes na Linha que separa dois planos distintos – o que está fora ou dentro, o que é imediatamente dado a ver ou escondido por um véu translúcido; no entanto, ao invés de separar, ela anuncia-se mutável e inquieta pela própria localização que repousa no espaço e no tempo; artistas como Jorge Abade, Jiôn Kiim, Isaque Pinheiro e Leonel Cunha
• A bienal estender-se-á, ainda, à Land Art de Miguel Moreira e Silva, utilizando recursos naturais e propondo uma obra efémera que reflete sobre a limpeza florestal e o retorno à terra. A equipa proposta para o desenvolvimento do projeto é notável, com artistas residentes como Miguel Neves Oliveira, Cláudia Pinheiro, Luís Silva e Nogueira de Barros;
• “Representar a Identidade de um Lugar Transmontano”, de Luís Rodrigues, pretenderá concretizar uma escultura, que será um elemento com o qual os visitantes poderão interagir, aos mesmo tempo em que se aprecia os trabalhos dos diferentes artistas, em simultâneo. Tratar-se-á de uma escultura em forma prismática, feita com acrílicos espelhados, com as faces interiores e as faces exteriores em espelho, perfuradas com círculos – com a função de janela – e que poderá girar num sentido rotativo.
• A curadoria de Natália Fauvrelle, por sua vez, fará a ponte com o artista homenageado da 2.ª edição da Bienal de Arte Contemporânea de Trás-os-Montes, Jaime Silva com as obras doadas ao Museu do Douro;
• O evento trará também O Poder do Objeto, com novos olhares da FBAC – À Liberdade de Jorge da Costa;
• As residências artísticas, oficinas e masterclasses promoverão, durante a bienal, uma rica interação com as comunidades locais, valorizando o património natural e cultural. Exemplificado pela transformação de troncos de madeira em esculturas em "Terra-Mãe" e na proposta de "Trazer o mar ao Azibo", o impacto positivo no território será evidente, fortalecendo a parceria estabelecida.