Em termos nacionais, a Pegada Ecológica do concelho brigantino é de 0,3 por cento (%), enquanto a Biocapacidade representa 0,7% do total do país, o que corresponde a um balanço positivo.
Foi com o intuito de medir o impacto das atividades de consumo dos brigantinos nos recursos naturais da região que o Município de Bragança assinou um Protocolo com a Associação Zero, cujos resultados foram apresentados este domingo, dia 28 de outubro, no Auditório Paulo Quintela.
Dos três objetivos gerais da pesquisa, apenas um foi já concluído. Trata-se da estimativa da Pegada Ecológica e da Biocapacidade dos seis municípios envolvidos, entre os quais, a capital de distrito, Bragança. Em 2019, serão debatidos com os cidadãos e partes interessadas dos respetivos municípios as implicações dos resultados e as opções de mitigação com o auxílio de calculadoras online da Pegada Ecológica que serão inseridas nos sites das câmaras municipais envolvidas na iniciativa. Por fim, o último objetivo, a acontecer em 2020, será o estudar e propor instrumentos e políticas que reforcem a coesão e equidade territorial com o objetivo de promover a gestão sustentável do território.
De acordo com os resultados do projeto piloto a nível internacional, denominado “Pegada Ecológica dos Municípios Portugueses”, em termos nacionais, a Pegada Ecológica do concelho brigantino é de 0,3 por cento (%), enquanto a Biocapacidade representa 0,7% do total do país, o que corresponde a um saldo positivo.
“Ficámos todos nós a saber que temos uma Pegada Ecológica bastante grande, mas, por outro lado, temos uma grande Biocapacidade”, começou por declarar o presidente da Câmara Municipal de Bragança, no final da apresentação pública dos resultados da primeira fase do projeto. Na opinião do autarca, trata-se, agora, de “perceber quais as medidas e de que forma é que podemos trabalhar para que consigamos reduzir a Pegada Ecológica e isto significa que cabe a cada cidadão poder tomar a atitude mais conveniente e mais consentânea com a necessidade de nós reduzirmos a Pegada Ecológica”, continuou Hernâni Dias, frisando que “estamos, ainda, numa fase inicial do projeto” e que, “no próximo ano, implementaremos a calculadora para que cada cidadão possa calcular a sua própria Pegada Ecológica”. Uma ferramenta que o edil brigantino considera “extremamente importante para que cada pessoa tenha a noção efetiva e concreta daquilo que está a fazer”.
“Os municípios que têm uma grande Biocapacidade poderem vir a ser compensados financeiramente para que se continuem a manter esses recursos naturais nos nossos territórios”, Hernâni Dias
Já no que diz respeito à Biocapacidade, Hernâni Dias defende que, em termos de políticas públicas a nível nacional, “os municípios com uma grande Biocapacidade deveriam ser compensados financeiramente para que se continuem a manter esses recursos naturais nos nossos territórios”. Na perspetiva do presidente da câmara, a Biocapacidade seria, assim, “um fator de compensação” a ter em conta já no próximo quadro comunitário de apoio ou, então, introduzido na nova programação do Portugal 2030, “no sentido dos municípios que têm uma grande Biocapacidade virem a ser compensados por esse contributo positivo que estão a dar ao país e ao planeta”.
Também a investigadora da Universidade de Aveiro, uma das entidades parceiras deste projeto liderado por seis municípios portugueses, enaltece os “resultados extremamente positivos da Biocapacidade” no concelho brigantino. Já os resultados da Pegada Ecológica, “são menos positivos do que aquilo que gostaríamos porque nos coloca no patamar de um cidadão médio português”, informa Sara Moreno Pires que reflete na importância de “tentarmos saber o porquê e tentarmos perceber, sobretudo, como é que uma cidade como Bragança pode ter o mesmo nível de consumo, a mesma estrutura de consumo que uma cidade como Vila Nova de Gaia ou Almada que são cidades mais densamente povoadas”. Nas palavras da investigadora, isto deve-se ao consumo de produtos alimentares, nomeadamente, a carne. “Como a alimentação tem um peso muito grande na Pegada Ecológica no país e como tem um peso maior em Bragança do que tem na média nacional, acaba por inverter outras percentagens que são menos significativas no contexto de Bragança como, por exemplo, no consumo de transportes ou em vestuário e calçado”, assinala Sara Moreno Pires, para quem Bragança, apesar deste “handicap”, continua a estar bem posicionado quando comparado com os outros cinco municípios que integram o estudo, sendo que, até ao momento, só foram revelados os resultados de três concelhos.
De destacar que a “Pegada Ecológica” é uma metodologia reconhecida internacionalmente, desenvolvida pela Global Footprint Network, que permite medir o impacto das atividades humanas de consumo nos recursos naturais do planeta. A metodologia pode ser aplicada a várias escalas, desde um individuo, cidade, região, país, até ao próprio planeta, comparando os recursos naturais usados para suportar um determinado estilo de vida com a capacidade dos ecossistemas para gerar esses mesmos recursos.
Nos últimos anos, a Pegada Ecológica tem sido calculada para diversas cidades em todo o mundo. Em Portugal, este projeto, iniciado em 2018, é inovador não só pela forma como integra o conhecimento da Pegada Ecológica com o cálculo da biocapacidade a nível local, como também pelo envolvimento da sociedade civil e pela promoção de novos instrumentos e políticas públicas que incentivem a redução dos impactes ambientais dos municípios e o reforço dos serviços prestados pelos ecossistemas desses municípios.
A iniciativa surge no âmbito de um projeto que resulta de uma parceria estratégica entre a ZERO, a Global Footprint Network, a Universidade de Aveiro e vários municípios do país, entre os quais Bragança. Almada, Lagoa, Guimarães, Vila Nova de Gaia e Castelo Branco são os restantes concelhos que integram o estudo, no entanto, numa segunda fase, o objetivo é estender o projeto a todos os municípios portugueses.