Lusa
O bispo da diocese de Bragança-Miranda, José Cordeiro, tem acompanhado as equipas que levam apoio a quem sofre de solidão e necessidade e pergunta “quando é que acaba” esta realidade provocada pela pandemia covid-19.
Algumas instituições sociais da Igreja criaram uma equipa para responder, em Bragança, ao atual momento e o bispo disse hoje à Lusa que sentiu “o dever de sair para o terreno”.
“Duas a três vezes por semana” acompanha a entrega de bens e medicamentos e a resolução dos problemas de quem está numa situação mais vulnerável e tem observado que “houve um aumento significativo, nestes últimos dias, de pedidos de ajuda”.
Alguns casos, como contou à Lusa, já eram acompanhados antes da pandemia, “outros são completamente novos em largas dezenas de famílias e estudantes internacionais, sobretudo africanos”.
No terreno tem “sentido muita solidão, muitas pessoas sentem-se sozinhas com medo de ficarem de doentes”, encontra “muita apreensão, muita preocupação” e a pergunta “quando é que isto acaba”, enquanto outros anseiam por uma resposta do regresso ao que faziam antes do confinamento imposto pela pandemia.
Pedem-lhe “que reze por eles” e revelam “um desejo enorme de afeto” na tentativa de “abraçar, tocar”, apesar das medidas de segurança adotadas também nestas visitas.
O bispo tenta, dentro das restrições impostas, levar um pouco do que falta no plano afetivo e, junto com as equipas, bens essenciais, medicamentos e compras que os mais idosos pedem para serem feitas, assim como atender aos mais necessitados.”
“Não é nenhum ato de caridadezinha, é um ato de fraternidade”, vincou.
Para José Cordeiro, esta crise sanitária gerou uma crise económica e social e as instituições de solidariedade estão a preparar-se para o pior no pós-pandemia.
“Depois dos hospitais serão as IPSS que estarão na linha da frente. Com o despovoamento do interior e o envelhecimento da população, são cada vez mais evidentes as dificuldades”, afirmou.
Segundo disse, “já se notam as dificuldades financeiras e de contratação de colaboradores com perfis adequados às necessidades, entre as 83 instituições” sociais da Igreja no distrito de Bragança.
O bispo reclama “maior apoio e um aumento substancial das comparticipações do Estado” e lembra que, “além da pandemia, os outros problemas com que se deparavam já estas instituições não deixam de existir”.
O prelado deixou uma palavra de gratidão às instituições civis e públicas que “têm acudido nesta hora de aflição”, mas ressalva que “são apoios pontuais” e as necessidades permanentes.
José Cordeiro aguarda pelas orientações para a retoma de atividades que sabe vai ser gradual nos próximos tempos, mas lançou um repto às paróquias locais para que “se abram as portas das igrejas onde for possível”.
A abertura destes espaços, como salientou, nunca esteve proibida, mas por algum excesso de zelo local foram encerradas.
Enquanto se vive “a expectativa do reencontro e do regresso à comunidade”, o bispo acredita que a porta da igreja aberta é por si “um sinal de esperança e de presença de Deus para os fiéis”.
