Uma antiga corte do boi do povo, em Vilar de Perdizes, Montalegre, está a ser recuperada e transformada num museu que recorda estes bois comunitários, reprodutores e que representavam as aldeias nas ancestrais chegas.
O presidente da União de Freguesias de Freguesias de Vilar de Perdizes e Meixide, João da Silva Araújo, disse à agência Lusa que se quer “recuperar a memória e a tradição” e lembrou que, antigamente, “em todas as aldeias do Barroso havia o boi do povo”.
O autarca prevê que, durante o próximo verão, já seja possível visitar o Museu O Boi do Povo, um pequeno espaço museológico que quer dar a conhecer usos e costumes do Barroso, território que se estende pelos municípios de Montalegre e de Boticas.
Este era um animal comunitário, criado e tratado em conjunto por todos os que possuíam vacas, que desempenhava as funções de reprodução e de representação da comunidade nas ancestrais chegas.
Entretanto, os bois comunitários foram sendo substituídos pela inseminação artificial e, atualmente, os bois existentes neste território pertencem a privados.
“Vamos fazer como era antigamente”, realçou, explicando que o antigo edifício de pedra foi ampliado há várias décadas com blocos de cimento e ferro e todo esse material foi, agora, retirado para deixar o espaço como era originalmente.
O autarca contou que a aldeia é “muito grande” e que ali, antigamente, “havia muitas vacas”, uma atividade agrícola que era conciliada com as de contrabandista que envolvia muitos habitantes desta localidade fronteiriça.
No rés-do-chão há duas cortes (currais) para os bois e, no primeiro andar, uma sala de paredes de pedra e chão e telhado de madeira vai ser um espaço expositivo com fotografias de antigos pastores e cuidadores do boi do povo, bem como das chegas de bois, e, ali, vão também ser projetados vídeos de chegas e colocados materiais usados no maneio dos animais e na lavoura.
O autarca disse que nas cortes foram já colocadas duas réplicas de bois e, no chão, foi espalhado “o mato que servia de cama aos animais”.
O trabalho de recuperação está a ser feito pelos próprios meios daquela junta de freguesia, que conta com o apoio do Ecomuseu do Barroso na preparação dos conteúdos.
O objetivo foi também, acrescentou, requalificar este espaço localizado junto ao estádio de futebol desta aldeia do norte do distrito de Vila Real.
Para além da função reprodutiva, José Silva Araújo destacou que o boi tinha ainda a importante tarefa de representar as aldeias nas chegas e contou que, quando o seu animal ganhava, as comunidades faziam grandes festas. Se o boi perdia o combate, este era imediatamente vendido.
As chegas de bois são uma tradição já muito antiga e, em Montalegre, todos os anos se realiza um campeonato, mas agora tendo como protagonistas os bois de proprietários privados.
O presidente da união de freguesias salientou que o objetivo é preservar tradições e valorizar os costumes desta aldeia, onde reside o padre António Fontes, conhecido pelo congresso de medicina popular de Vilar de Perdizes e pela noite das bruxas que acontece nas sextas-feiras 13 em Montalegre.
José da Silva Araújo exemplificou outras tradições que estão a ser recuperadas nesta freguesia como os fornos do povo, que reabrem na Páscoa para cozer o folares, e a “Serrada das velhas”, que consiste num grupo de homens, munido de uma serra comprida, visitar a meio da quaresma algumas casas da aldeia para cantar músicas satíricas às mulheres mais idosas da aldeia.