Já há casas de banho, as mulheres já têm camaratas, as viaturas garagem, já não entra chuva e os serviços administrativos já não estão num lar. O quartel de Salto foi inaugurado ontem, após duas décadas de «calvário».
A cerimónia foi presidida pelo ministro da Administração Interna, Rui Pereira, que presidiu também à assinatura dos protocolos que vão permitir a criação das duas primeiras duas Equipas de Intervenção Permanente no distrito de Vila Real. Um total de dez elementos (bombeiros) que, em permanência, estarão disponíveis para intervir na área da protecção e socorro das populações do concelho e cujos vencimentos serão assegurados, em partes iguais, pela Autoridade Nacional da Protecção Civil e pela Câmara Municipal de Montalegre. Uma das equipas ficará afecta aos Bombeiros de Salto e outra aos de Montalegre.
Visivelmente emocionados, nos discursos, o presidente e o comandante dos Bombeiros lembraram ao ministro o \"penoso calvário\" que \"hoje [ontem] chegou ao fim\". Não era para menos. Desde que a obra começou a ser idealizada até à sua conclusão passaram quase 20 anos. \"Foi [o quartel de Salto] campeão de prateleira\", disse o comandante da corporação dos Bombeiros, que, em 2004, e depois do concurso para a construção da obra ter sido cancelado pelo então secretário de Estado, ameaçou montar uma tenda na estrada, levar para lá os seus homens, instalados há anos nas traseiras de um prédio, sem o mínimo de condições. Não foi preciso. Uma semana depois, o Governo prometeu ir a Salto assinar o protocolo de financiamento do quartel. E foi, mas antes cancelou duas datas agendadas. Numa das vezes, e porque o fez com apenas uma noite de antecedência, mesmo sem protocolo e sem governante, o banquete que estava preparado aconteceu na mesma.
\"Com ou sem dinheiro do Governo, a obra vai ser feita\", reagiu, irritado, na altura, o presidente da Câmara de Montalegre, o socialista Fernando Rodrigues.
Mas a má sina do quartel não terminou aqui. Pouco depois de ter começado a obra, o empreiteiro faliu, obrigando a nova adjudicação. Águas passadas, contudo. \"Apesar da novelística desta casa, hoje temos o mais lindo e funcional dos quartéis de Portugal\", regozijou-se o comandante Orlando Alves, enumerando, quase um por um, os que contribuíram para a obra.
A Câmara de Montalegre, onde é vereador, foi a que mais contribuiu. Além do que lhe cabia no protocolo, 150 mil euros, pagou a parte da corporação (outros 150 mil), pagou o terreno o projecto e ainda as melhorias que foram introduzidas em termos de materiais. \"Bem podemos dizer que estamos perante um quartel municipal\", referiu Orlando Alves.
O ministro preferiu falar numa \"parceria feliz\" entre administração central e local. A cerimónia foi também aproveitada para homenagear a \"dona Maria\", a telefonista que, numa central feita de taipas e à mercê do frio e da chuva que passavam pela porta, \"passou noites sem conta sem ir à cama só para estar mais próxima do telefone\". \"Mil vezes obrigada!\", disseram-lhe, agora que a sua idade já não lhe permite \"atinar\" com a moderna central do novo quartel.