O presidente da Comunidade Intermunicipal (CIM) Terras de Trás-os-Montes, Jorge Fidalgo, expressou hoje descontentamento pela falta de ligação a Espanha da linha de comboio entre o Porto e Bragança, proposta pelo Governo no Plano Ferroviário Nacional (PFN).
O plano, anunciado na quinta-feira pelo Governo, inclui uma nova linha ferroviária de passageiros para ligar Porto, Vila Real e Bragança, que o presidente da CIM considera “importante”, já que o distrito de Bragança é o único do país sem caminho-de-ferro, mas não reflete as pretensões deste território.
Segundo disse à Lusa o presidente da Comunidade Intermunicipal, que é também presidente da Câmara de Vimioso, o plano “não responde” àquilo que é a pretensão da CIM, já apresentada ao Governo, e que é a continuação da ligação de Bragança até Espanha pelas chamadas Terras de Miranda, que incluem os concelhos de Miranda do Douro, Vimioso e Mogadouro.
“Não vemos isso refletido no plano e manifestamos o nosso descontentamento relativamente a isso, e é o que nós defendemos e é o que vamos defender”, afirmou, indicando que serão feitas diligências nesse sentido no período de discussão pública do plano.
A construção da ligação ferroviária do Porto a Bragança foi proposta e defendida pela Associação Vale d´Ouro e, segundo o autarca, a última solução apresentada ao Governo já incluía a continuação para Espanha, que não se encontra refletida nos investimentos previstos.
A CIM Terras de Trás-os-Montes defende que a continuação da ligação de Bragança para Espanha pela zona do Planalto Mirandês “serviria muito melhor”, desde logo a região, já que sem ela “há uma vasta área do território do distrito de Bragança que fica completamente fora deste plano”.
“Nós achamos que faz muito mais sentido a ligação ferroviária a Zamora do que a Puebla de Sanábria, o trajeto por Zamora, em termos ambientais, de tempo, de população servida, tem muito mais sentido do que o que agora o Governo apresenta”, argumentou.
O presidente da CIM defendeu ainda que “devia haver balizas temporais fixadas” para a execução do PFN e que esta região “não seja a última a ter linha férrea, como aconteceu com as autoestradas”.
“Agora podiam-se inverter as coisas, podia ser a primeira, já que fomos a última nas rodovias, agora que fossemos a primeira na ferrovia”, enfatizou.
O presidente da Câmara de Bragança, Hernâni Dias, também considera que “não será um fator de grande desenvolvimento uma proposta que se apresenta a terminar em Bragança”, mas critica, sobretudo, o facto de esta ligação, que aponta como “o corredor mais curto entre o Porto e Espanha”, não ter sido contemplada na alta velocidade.
“Só confirma aquilo que temos vindo a constatar ao longo do tempo, que é o constante e permanente esquecimento a que somos votados, mesmo quando se trata apenas de estudos e de um plano nacional, mas que deve ser entendido como um plano a ser concretizado e que deve olhar para o território como um todo e não esquecer uma parte”, considerou.
Relativamente ao prazo que tem como limite temporal 2050 para a concretização do PFN, o autarca de Bragança disse à Lusa que compreende “a dificuldade de se conseguir concretizar determinado tipo de intervenções em espaços relativamente curtos”.
Hernâni Dias diz ainda que já ficará “minimamente satisfeito se de facto o plano for concretizado neste prazo”, mas acrescentou que está “muito cético no cumprimento desta meta temporal”.
O PFN tem como principais objetivos “passar de 4,6% para 20% de quota modal no transporte de passageiros”, “passar de 13% para 40% de quota modal no transporte de mercadorias”, “assegurar ligação com elevada qualidade de serviço aos 28 centros urbanos de relevância regional, que incluem todas as capitais de distrito, potenciando o seu desenvolvimento”.
No final da cerimónia de apresentação, em Lisboa, o primeiro-ministro, António Costa, afirmou que o documento voltará a ser apreciado em reunião do Conselho de Ministros, dizendo esperar que nessa ocasião seja possível haver “um bom entendimento”.