Parte da população de Bragança, nomeadamente dos concelhos distantes dos hospitais, tem menos hipóteses de sobreviver a um AVC, por falta de resposta de cuidados específicos para a principal causa de morte na região.
Esta conclusão foi ontem divulgada em Bragança, durante a divulgação do diagnóstico do Nordeste Transmontano, por Jorge Poço, médico responsável pela unidade de AVC (Acidente Vascular Cerebral) do Hospital de Macedo de Cavaleiros, durante um congresso sobre saúde.
O médico concluiu ainda que a população de Bragança está mais desprotegida e em desvantagem face ao resto do país, no que se refere ao atendimento urgente em casos de AVC, porque nenhum dos três hospitais dispõe da Fibrinólise, um tratamento que tem de ser administrado nas três horas seguintes à ocorrência dos sintomas, e que pode salvar vidas. Nenhum dos hospitais do distrito tem a terapêutica, nem mesmo a unidade de AVC de Macedo de Cavaleiros, a única para os 12 concelhos. A unidade mais próxima com o tratamento é o de Vila Real, que dista mais de uma hora de Bragança e a duas de Freixo de Espada-à-Cinta.
Poço considera que a população deste concelho tem \\"poucas probabilidades de chegar a Vila Real num espaço de três horas, mesmo acelerando os processos todos\\", referiu. Para isto também contribuiu a norma de encaminhamento dos doentes que não vão directamente para a unidade hospitalar do distrito vizinho.
Nuno Paixão, adjunto de comando dos Bombeiros de Freixo, explicou os procedimentos de socorro: os doentes são transportados para o centro de saúde que encaminha para o hospital de Mirandela, daqui são encaminhados para a unidade de AVC de Macedo de Cavaleiros e, se for necessário, vão para Vila Real\\", afirmou.
Pela unidade de AVC de Macedo de Cavaleiros passam anualmente 250 dos 600 casos que ocorrem no distrito, cuja média de incidência é superior à média nacional. Poderia ser reduzida com a implementação da Via Verde, que permitiria um encaminhamento mais eficiente. Jorge Poço garantiu que se estão a fazer diligências para instalar o sistema.
O presidente da Câmara de Macedo, Beraldino Pinto, explicou que tem pressionado o Ministério da Saúde para que sejam realizadas as obras de ampliação na unidade de AVC. «Estão previstas há muito tempo, sem elas não se consegue responder nem a 50% das necessidades».
Portugal tem uma das mais altas taxas de incidência de acidente vascular cerebral de toda a Europa, com cerca de 200 novos casos por 100 mil habitantes todos os anos, valor que coloca o AVC no topo das causas de morte entre nós, com 20 mil óbitos anuais ou seja 54 por dia.
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O que é um AVC?
Um AVC é, antes de mais, um Acidente Vascular Cerebral, ou seja, é uma patologia associada a alterações nos vasos do cérebro.
Estas alterações são de 2 tipos: isquémicas e hemorrágicas.
As primeiras implicam uma redução no fluxo sanguíneo cerebral. Esse fluxo é importante porque permite transportar para o cérebro oxigénio e nutrientes essenciais ao funcionamento das células que o constituem. Se esse fluxo é reduzido ou interrompido, as células cerebrais deixam de receber esses elementos essenciais e acabam por morrer.
As alterações hemorrágicas correspondem a alterações da permeabilidade dos vasos sanguíneos cerebrais ou mesmo a ruptura dos mesmos. Assim, há saída de sangue desses vasos provocando a formação de um aglomerado de sangue que comprime as estruturas cerebrais, alterando o seu funcionamento.
Quando isto acontece as funções desempenhadas pelo grupo de células que morreu perdem-se e o indivíduo tem aquilo que se chamam sinais neurológicos, ou seja, manifestações da falta dessas mesmas funções.
Porque é que o AVC acontece?
No caso do AVC isquémico existem 2 causas principais: a trombose e a embolia. A trombose acontece quando uma artéria por qualquer razão vai ficando cada vez mais estreita e acaba por se ocluir (a razão mais frequente é a aterosclerose). A embolia acontece quando algo que circula na corrente sanguínea chega a uma artéria com menor calibre e a oclui (mais frequentemente trata-se de coágulos de sangue que se formam nas artérias fora do cérebro ou no coração). Existem outras causas mas são menos frequentes e não serão discutidas aqui.
No caso do AVC hemorrágico as 2 causas mais importantes são: traumatismo craniano e a existência de alteração das artérias, nomeadamente aneurismas, malformações arterio-venosas, mas mais frequentemente alterações causadas pela existência de hipertensão arterial.
Quais são os factores de risco de AVC?
-Idade (acima dos 50-60 anos)
-Sexo masculino (embora seja mais frequente nos homens, nas mulheres há mais mortalidade)
-História de AVC na família mais próxima
-Hipertensão arterial
-Diabetes
-Hiperlipidémia (gorduras no sangue)
-Tabagismo
-Alcoolismo (especialmente no caso do AVC hemorrágico)
-Anticonceptivos orais (pílula)
O que é que me pode proteger de ter um AVC?
-Exercício físico regular de intensidade moderada pelo menos 3 vezes por semana
-Consumo de pequenas quantidades de bebidas alcoólicas, especialmente o vinho tinto (só para o AVC isquémico, no caso do hemorrágico devem-se evitar completamente as bebidas alcoólicas)
-Dieta rica em peixe, cálcio e potássio
-Controlar os factores de risco acima descritos
-Seguir os conselhos do seu médico, especialmente no caso de ser hipertenso, diabético ou ter problemas de coração.