Uma “multidão” de quatro mil silhuetas de homens e mulheres ocupa por completo o chão de um dos espaços do Centro de Arte Contemporânea de Bragança, naquela que é a maior exposição do israelita Zadok Ben-David, em Portugal.

A partir de quarta-feira, até 20 de outubro, a cidade transmontana recebe a instalação que o desenhador e escultor já mostrou, desde 2015, em Sidney (Austrália), Los Angeles (Estados Unidos da América) e Seul (Coreia do Sul).

A exposição de Bragança é, como disse o artista à Lusa, a maior de todas da obra “People I saw but never met” ("Pessoas que vi, mas nunca conheci") e na qual, cada escultura resulta de fotografias tiradas pelo próprio Zadok, em 20 países.

Nas muitas viagens que faz pelo mundo, leva a máquina fotográfica e regista, sem que estas se apercebam, pessoas com quem se cruza ocasionalmente, mas com as quais não chega a interagir.

Zadok escolhe as fotos que são tratadas por designers gráficos e, a partir dos negativos dos desenhos, desencadeia-se o processo de reproduzir em alumínio e inox os fotografados.

De miniaturas a peças com cinco metros, as esculturas reproduzem a minúcia das expressões faciais, movimentos, símbolos como a bandeira portuguesa no chapéu de um homem em Israel ou utensílios usados pelos fotografados enquanto andam, sorriem, brincam, tomam um café ou apreciam o quotidiano.

A partir da simplicidade da natureza humana, como descreve o autor, surge a grandiosidade de um chão repleto de quatro mil esculturas de figuras representativas de diversas faixas etárias e da pluralidade de etnias, idiomas, tradições, culturas, religiões.

Sem o saberem, como salienta o curador da exposição, Jorge da Costa, estas pessoas “tornam-se participantes acidentais desta imensa obra”.

As esculturas estão ancoradas num “tapete” de areia, umas mais pequenas e outras maiores e, de acordo com a dimensão, “todas no mesmo plano e à mesma distância”, como salienta Zadoc, numa preocupação de transmitir a igualdade da condição humana.

“Não tem significado político, mas humano”, vincou, contando à Lusa que, aos poucos, ao longo da carreira de cerca de 40 anos, a figura humana começou a ser o seu tema central, e escolheu uma técnica de “escultura que não é tradicional” para a abordar.

Zadok garante que se lembra de todas as fotos registadas e já são 5.500 figuras pequenas e 200 grandes que esculpiu, a partir dos instantes de vida que registou.

A pensar na dificuldade de os apreciadores terem em casa uma escultura com as dimensões das que costuma criar, Zadok faz agora também caixas com miniaturas.

O artista anunciou, durante a entrevista à Lusa, que vai doar uma dessas caixas, com 30 figuras inspiradas apenas em portugueses que fotografou, ao centro de Arte Contemporânea Graça Morais de Bragança.

Zadok Ben-David gostaria também de colocar na Praça da Sé, junto ao centro da cidade, uma das esculturas de maior dimensão, com quatro metros, mas ainda não sabe se será possível.

Além da figura humana, o artista trabalha também flores, borboletas, árvores, e tem peças espalhadas pelo mundo.

Há dois anos, fez uma exposição no Japão, com 27 mil peças a representarem um campo florido que, visto de um lado, tem o colorido das flores e, do outro, é negro.

Os dois lados expressam a “Paz e Guerra”, presentes também na exposição de Bragança, no vídeo “Conversas de Paz”, que resume a mensagem de Zadok: “A natureza das pessoas é não lutar, é ter uma boa vida e paz”.

A exposição “People I saw but never met” está inserida na iniciativa Terra(s) de Sefarad — Encontros de Culturas Judaico-Sefardita, que decorre entre quarta-feira e domingo, em Bragança.

Foto: JC



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