O Planalto Mirandês é o campo experimental da primeira Brigada Florestal Animal, que consiste num projeto-piloto que tem por missão a limpeza de lameiros e mato, a fim de criar zonas tampão em caso de incêndios florestais.
Esta iniciativa é coordenada pela Associação Para o Estudo e Proteção do Gado Asinino (AEPGA), que dispõe de duas dezenas de burros desta raça autóctone que estão posicionados, atualmente, no território de Vila Chã da Braciosa, no concelho de Miranda do Douro, distrito de Bragança.
“Através deste projeto-piloto, pretendemos demonstrar o grande potencial que os burros mirandeses podem ter na gestão da paisagem, e, ao mesmo tempo, contribuir para a diminuição da carga combustível existente em lameiros abandonados", disse à Lusa o secretário técnico da AEPGA, Miguel Nóvoa.
Para fazer os trabalhos de limpeza de lameiros e mato são utilizados estes autênticos “destroçadores” de matéria vegetal, onde em cada sete hectares de terreno são colocados seis a 12 animais, que são controlados por uma cerca elétrica para não abandonarem o local.
“Os lameiros começam a ficar abandonados e as terras marginais ficam ocupadas por mato, tendo o burro um grande potencial para este tipo de trabalhos de limpeza”, explicou o também veterinário.
Nesta iniciativa ambiental, os animais são apenas controlados por uma cerca elétrica, que é ajustada e cada meio ano, para os confinar uma determinada zona de limpeza, para assim diminuírem a carga combustível de cada parcela de terreno.
O bem-estar animal, é outra das precauções a ter com o efetivo da Brigada Florestal Animal, já que todas as semanas os burros são visitados por técnicos que verificam o seu estado de saúde, avaliam o índice de massa corporal e ajustam a sua alimentação, caso seja necessário. Cada animal dispõe ainda de um sistema GPS para controlar os seus movimentos.
De acordo com Miguel Nóvoa, o projeto tem demonstrado resultados visíveis nos últimos anos e cada vez mais se torna importante o uso de animais na gestão da carga combustível ao longo do ano, nos mais diversos tipos de vegetação e áreas territoriais.
Este projeto, de acordo com os seus mentores, poderá ser alargado e dotado de mais animais para controlar a vegetação espontânea a fim de criar “autênticas zonas tampão”, que ajudem a controlar os incêndios florestais e diminuir a matéria combustível.
O projeto-piloto da Brigada de Florestal Animal está direcionado para a limpeza de áreas de terreno marginais que são ocupadas por vegetação espontânea como estevas, matos ou azinheiras, fomentando desta forma a regeneração natural de outras espécies de vegetação autóctone.
Já no que respeita à gestão dos lameiros, a AEPGA garante que será feita uma gestão destas parcelas de terreno, em zonas rurais.
“O lameiro é um habitat que foi construído pelo homem, sendo zona de pasto de alto valor natural. Infelizmente [os lameiros] estão a ser abandonados e ocupados por mato. Se conseguirmos reverter esta situação de abandono, e criar valor nestes espaços naturais, poderemos obter resultados importantes para a conservação deste tipo de espaços agrícolas”, enfatizou Miguel Nóvoa.
Para a bióloga Sara Pinto, que faz parte da equipa do projeto, comparando o burro com os meios mecânicos, a utilização destes animais é mais vantajosa, sendo que a redução da erosão dos solos é a primeira que é verificada.
“A erosão dos terrenos é mais suave e progressiva com a utilização de animais na limpeza de lameiros e mato e, ao mesmo tempo, existe uma menor compactação dos solos, em relação a utilização de meios mecânicos”, indicou a investigadora.
Este processo de limpeza de áreas agrícolas, recorrendo aos burros, torna-se mais económico para os proprietários face à atualização de maquinaria e, ao mesmo tempo, ajuda a reduzir a pegada de carbono.
“Os burros são bons gestores de paisagens porque podem criar descontinuidade nas áreas florestais e ajudar a travar o avanço dos incêndios rurais. Tem de haver um bom maneio dos animais no terreno, para evitar a erosão em redor das aldeias”, indicou Sara Pinto.
A Brigada Florestal Animal é um projeto-piloto multidisciplinar que engloba técnicos de áreas de estudo desde a botânica, passando pela biologia, até à engenharia ambiental ou veterinária a que se junta o Instituto Politécnico de Bragança (IPB).
Francisco Pinto, da agência Lusa, Foto: AEPGA