A aldeia de Bruçó, no concelho de Mogadouro, viveu um domingo de Pentecostes "como não há memória", devido às limitações provocadas pela covid-19, e só 45 pessoas puderam assistir à missa num templo com capacidade para 150 fiéis.
Fora da igreja ficou cerca de uma dezena de pessoas que não pôde entrar e só a forte chuva, provocada pelo trovoada que se abateu sobre esta aldeia do distrito de Bragança, levou a que os féis que estavam na rua fossem convidados a subir para o espaço do coro, onde mantiveram o distanciamento obrigatório.
"No início tive um certo receio, porque se tratava da primeira celebração de uma eucaristia, após mais de dois meses de interrupção sem celebração da missa. E com é uma experiência nova, como todos nós estamos a viver, não sabia qual seria a reação dos paroquianos, apesar de ser dia de festa e o número de presentes ser reduzido pelas regras. Mas vi respeito pelas diretrizes das autoridades de saúde", disse à agência Lusa o padre Paulo Jorge Freitas, que presidiu à celebração.
Com o devido afastamento social, máscaras na cara e desinfetante colocado estrategicamente em vários locais da igreja, houve pontos altos que acontecem em qualquer missa, como é a comunhão, mas as pessoas não puderam efetuar o cumprimento do ato de paz para não haver contacto físico.
Para o pároco de Bruçó, a alegria do retomar das missas não está no número de pessoas, mas sim "na alegria da própria celebração".
"Todos aqueles que estiveram na celebração da missa foram corajosos, principalmente junto de uma comunidade envelhecida, [mas] ainda é muito prematuro fazer uma perspetiva de futuro em relação às celebrações religiosas", vincou o clérigo.
Ilídio Rito, de 83 anos, marcou presença nas missas de Pentecostes, tal como o faz há várias décadas, só que este ano faltava a família que não pôde comparecer devido às distâncias e à limitação de lugares na igreja.
"Neste dia estávamos todos juntos. É o dia da maior festa da aldeia que devido à pandemia provocada pela covd-19, obrigou a um afastamento. Para o ano fazemos a festa", disse o octogenário.
Evangelino Morais, de 79 anos, que ajuda na celebração, observou que "o povo já estava com vontade de ouvir a palavra de Deus".
"Toda a gente cumpriu as regras de forma serena, sem grandes palavras, mas com muita fé e devoção", disse o paroquiano.
Outras situações verificadas foi o confinamento das pessoas de risco, principalmente os mais idosos, que acabaram por não comparecer, após os conselhos e indicações da junta de freguesia.
No final de eucaristia, José Salgado, mordomo da Comissão de Festas do Pentecostes, mostrou desalento pelo facto de a festividade não se realizar divido às restrições impostas.
"Estou muito triste e confuso com a situação em que vivemos. Anda tudo baralhado e apesar da devoção só poderemos realizar a festa, ao que tido indica, no próximo ano", frisou.
Já Noémia Fernandes, uma das zeladoras da igreja, contou à Lusa que houve todos os cuidados com os paramentos, coberturas dos altares e com outros objetos utilizados na celebração da missa.
"Nada saiu da igreja para o exterior. Limpámos tudo e passámos a ferro cá dentro para evitar alguma contaminação", concretizou.
Este ano também não se cumpriu a tradição de colocar 12 pessoas, que representam os apóstolos e que seguram uma vela. No altar apenas estavam as 12 velas para cumprir o ritual devido ao exigido distanciamento social.
Portugal contabiliza pelo menos 1.410 mortos associados à covid-19 em 32.500 casos confirmados de infeção, segundo o último boletim diário da Direção-Geral da Saúde (DGS).