Duas jovens de Bragança, que foram admitidas pela primeira vez na Escola de Dança do Conservatório Nacional, receberam a sua formação inicial num projecto local que está suspenso por falta de apoios.

Elsa Ribeiro Alves e Ana Margarida Vinhais fizeram história ao tornarem-se nas primeiras aspirantes a bailarinas de Bragança a conseguiram entrar na única escola oficial e de ensino integrado de Portugal.

Elsa foi mesmo a única, a nível nacional, a conseguir superar as provas de admissão, a 25 de Junho, para o 7º ano, com 15 valores.

Ana Margarida teve a mesma nota e faz parte do grupo de quatro jovens admitidas para o 6º ano.

Estes graus equivalem aos 10 e 11 anos na Escola de Dança do Conservatório Nacional.

As duas fazem já os preparativos para partirem para Lisboa, com a alegria de alcançarem um sonho, no entanto algo ensombrada por deixarem em Bragança, com o futuro suspenso, a escola que as preparou para esta «vitória».

Pais e alunos não compreendem a falta de apoios de instituições e empresas da cidade ao «mérito» do projecto cultural destinado à juventude, que materializou a Escola de Dança GEMA.

«O rigor, a metodologia e a qualidade deste projecto é uma mais valia para a cidade», considera Ribeiro Alves, um dos pais que fundaram a Associação Cultural e Juvenil, composta ainda por professores e alunos, que deu origem à escola de dança.

O projecto, sem fins lucrativos, mantém-se há dois anos, mas as mensalidades dos 30 alunos são, segundo os professores Gabriel Fratian e Lúcia Valdevino, insuficientes para suportar as despesas.

As actividades da escola estão suspensas porque não há mais dinheiro para pagar a renda da sala de um hotel que a associação equipou para o efeito a custas dos sócios.

Um grupo de pais disse hoje à Lusa já ter pedido apoios à Câmara Municipal de Bragança, embora sem sucesso.

Maria José Garcia, mãe de uma aluna, diz que o Teatro Municipal de Bragança dispõe de uma sala de ensaios com todas as condições que podia ser cedida para as actividades da GEMA.

Para estes pais, o projecto merecia também ter uma ligação ao Conservatório Regional de Música de Bragança.

«Se a GEMA acabar, a cidade perde uma mais valia cultural e é uma pena», afirma uma outra mãe, Helena Mendonça.

Austelina Rego defende que a autarquia deveria, pelo menos, garantir os ordenados dos dois professores.

O professor romeno, Gabriel Fratian, esteve na origem deste projecto, depois da Junta de Freguesia da Sé não lhe ter renovado o contrato na escola de dança daquela autarquia.

Algumas alunas saíram com o professor, que com outra colega e vários pais formaram a associação e a nova escola de dança.

Os pais reconhecem a Gabriel «profissionalismos, rigor e qualidade» e lamentam que, apesar das inúmeras solicitações de apoio a instituições e empresas da cidade, apenas a Junta de Freguesia Santa Maria tenha disponibilizado uma televisão, um vídeo e 200 euros.

Uma empresa de audiovisuais e uma rádio da cidade, a Brigantia, também contribuíram monetária e logisticamente.

Contactada pela Lusa a vereadora da Cultura na Câmara de Bragança, Fátima Fernandes, remeteu declarações para o presidente, o social-democrata Jorge Nunes, que não quis pronunciar-se sobre o assunto.

«Prima-se a incompetência e o compadrio», sustenta Raimundo Maurício, um dos pais envolvidos no projecto.



PARTILHAR:

«Guerrilha» institucional

Apenas 19 participantes