As câmaras de Boticas e Vila Pouca de Aguiar estão dispostas a contribuir financeiramente com cerca de 200 mil euros, cada, para a reposição da ponte pedonal entre Monteiros e Veral, afetada pela barragem do Alto Tâmega.
A informação foi avançada hoje à agência Lusa pelos dois autarcas do distrito de Vila Real, que reivindicam, conjuntamente com a população, a reposição da ponte pedonal sobre o rio Tâmega, que liga as aldeias de Veral (Boticas) e Monteiros (Vila Pouca de Aguiar) e que vai ser retirada devido à construção da barragem do Alto Tâmega, inserida no Sistema Eletroprodutor do Tâmega (SET), concessionado à espanhola Iberdrola.
O presidente da Câmara de Vila Pouca de Aguiar, Alberto Machado, disse que a “ponte liga pessoas” e que não admite outra solução que não seja a reposição “justa” da travessia pelo rio Tâmega.
“Nós não vamos abdicar de fazer a ponte. A ponte terá de ser feita, seja o projeto avançado em primeiro lugar pela Iberdrola, ou pelo nosso, que é mais barato, ou uma outra ponte mais barata, nós não abdicamos disso”, afirmou Fernando Queiroga, presidente da Câmara de Boticas.
O projeto apresentado pelos autarcas para a reposição da travessia pedonal representa um investimento de cerca de 2,9 milhões de euros.
Para a solução, os municípios mostraram-se disponíveis para contribuir com um total de cerca de 400 mil euros, 200 mil euros cada.
Trata-se, segundo os autarcas, de “um esforço muito significativo” para os orçamentos municipais e de um “sinal” de respeito para com as populações.
“Estas populações que nós representamos, embora sejam das freguesias mais pequenas, devem ser tratadas com o máximo de respeito e com consideração idêntica às de outras de outra qualquer parte do país”, salientou Alberto Machado.
A posição dos presidentes foi transmitida durante uma reunião que se realizou ao final da tarde de segunda-feira, na Agência Portuguesa do Ambiente (APA).
Ambos querem também “uma solução urgente”, recusando participar em mais reuniões sem uma tomada de decisão, mas esperando que se realize uma outra, no prazo de duas semanas, para que sejam anunciadas decisões.
Os autarcas dizem que a decisão cabe ao Estado e que a concretização deverá ser feita pela Iberdrola no âmbito das contrapartidas pela construção do empreendimento.
“O tempo começa a ser um fator muito importante nas decisões. Esta barragem tem prevista a fase de enchimento para o último trimestre de 2023, estamos a falar exatamente daqui a um ano e sabemos que esta obra se torna muito mais onerosa se for feita em fase de enchimento”, salientou o autarca de Vila Pouca de Aguiar.
Pelo menos, frisou, os pilares têm de ser feitos antes dessa fase.
A barragem do Alto Tâmega é a última que falta concluir no âmbito do SET, estando já a produzir energia as barragens de Daivões e Gouvães.
A reivindicação das populações e autarcas arrasta-se desde que se soube que a ponte pedonal iria ser retirada, sem uma alternativa para o atravessamento do rio.
No entanto, argumentos como o elevado custo da infraestrutura e os poucos utilizadores têm sido usados contra a construção de uma nova ponte.
“Nem que fosse uma só pessoa. Aliás, nós continuamos a fazer investimentos nas aldeias enquanto houver gente e, portanto, sejam 100 seja uma, merecem a mesma consideração”, afirmou Fernando Queiroga.
Para Alberto Machado, “não pode haver portugueses de territórios de baixa densidade e outros de territórios de alta densidade” e este é, na sua opinião, “mais um argumento para que não se isole quem já está naturalmente isolado”.
Se a reposição não avançar, os autarcas admitem mesmo recorrer à via judicial.
“Para além de uma imoralidade para com estas populações, na nossa opinião também há aqui uma ilegalidade porque a ponte existia, não foram as populações que pediram a barragem, foi para bem do país, da eficiência energética e das energias renováveis”, apontou Alberto Machado.
Fernando Queiroga disse esperar que se mantenha “a regra do bom senso nas decisões”.
Alberto Machado realçou que, na reunião de segunda-feira, sentiu “uma boa vontade e interesse da APA em se conseguir efetivar” esta reivindicação.
Relativamente a uma outra reposição, no âmbito da construção da barragem do Alto Tâmega e que também foi reclamada pelos autarcas e habitantes das aldeias de Capeludos (Vila Pouca de Aguiar) e Sobradelo (Boticas), já foram concluídos os pilares da ponte e está a iniciar-se a construção do tabuleiro que permitirá a circulação pedonal e automóvel.
Prevê-se que esta obra esteja concluída em abril de 2023.