A candidatura ibérica das mascaradas de inverno a Património Imaterial da Humanidade está dependente da emissão de um parecer português indispensável para avançar com o processo junto da UNESCO, indicaram hoje os proponentes.

Portugueses e espanhóis reuniram-se hoje em Bragança para fazer um ponto da situação da pretensão que junta 51 festividades dos dois lados da fronteira que envolvem manifestações e rituais com máscaras.

Segundo avançaram, em Espanha o processo está pronto, falta do lado português a Direção-Geral do Património Cultural emitir o parecer para inscrição das mascaradas no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial.

“Vamos ter de insistir um pouquinho na parte da entidade que tem de emitir o parecer para que não nos atrase o processo”, afirmou o presidente da Câmara Municipal de Bragança, Hernâni Dias.

O autarca é também vice-presidente do Agrupamento Europeu de Cooperação Transfronteiriça (AECT) Zasnet, constituído por municípios do distrito de Bragança, em Portugal, e da região de Zamora, em Espanha, a quem foi entregue o processo.

A intenção da candidatura conjunta à Organização das Nações Unidas para a Ciência, Cultura e Educação, tem 15 anos e foi recuperada em 2017 com a entrega do processo ao Zasnet e a elaboração do esboço da candidatura.

O processo, como explicou o autarca português, “abrange um conjunto de 51 festividades, 31 do lado de Portugal e 20 do lado espanhol”, com a ambição de conseguir alcançar “essa calcificação comum” de Património Imaterial da Humanidade.

“Seria uma forma de valorização daquilo que é esta cultura, este património, esta identidade do nosso território”, vincou.

Em Espanha “está tudo tratado”, falta agora do lado português a resposta aos contactos feitos com a Direção geral do Património “para que a candidatura depois possa avançar para a UNESCO”, como disse.

A coordenadora dos especialistas e organismos envolvidos na candidatura, Maria Diaz Lourenço, corrobora a espera pelo parecer do organismo português, que aponta como um passo determinante também para ter a noção das hipóteses de sucesso da candidatura.

Os promotores sabem que este processo pode ser demorado, tendo em conta a lista de espera que a UNESCO tem de candidaturas e o organismo internacional que decide sobre as mesmas só se reúne uma vez por ano.

Porém, a espanhola Maria Diaz Lourenço afirmou terem a indicação de que a UNESCO dá “prioridade e considera um ponto forte as candidaturas que se apresentam envolvendo mais do que um país”.

O estudioso da matéria António Tiza garantiu que estas tradições ibéricas têm especificidades que as distinguem de outros rituais que usam as máscaras.

Mascaradas é o termo mais usado pelos espanhóis que do lado português se materializam nas chamadas Festas dos rapazes por altura do Natal, Ano Novo e Carnaval.

Estão associadas ao colorido e reboliço dos caretos, os mascarados que são os protagonistas destas festas, e “fazem parte da vida das comunidades como as festas de verão em honra do padroeiro”, sublinhou António Tiza.

“Representam a vida da comunidade e em vários momentos essa vida aparece na critica social, é a revista do ano, os acontecimentos mais importante que se deram na comunidade e que aparecem neste momento, criticados por vezes. É como uma libertação pública dos pecados, dos males sociais que aconteceram”, explicou.

Nos últimos anos, estes rituais têm sido recuperados em várias aldeias e há mais gente a trabalhar a temática, como os 14 artesãos que marcam presença a trabalharem ao vivo na Mascararte, a bienal da máscara que decorre até quinta-feira, em Bragança.



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