A Direção-Geral do Património Cultural inscreveu a Capa de Honras Mirandesa no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial, o que, para a presidente da autarquia, é o culminar do um longo caminho na salvaguarda desta peça de vestuário.
O “Processo de Confeção de Capa de Honras”, do concelho de Miranda do Douro, no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial, foi hoje publicado em Diário da República.
Contactada pela Lusa, a presidente da Câmara de Miranda do Douro disse que este é “o culminar de um processo que já se arrastava há já algum tempo”.
“Foi com muita satisfação que recebemos a notícia da Inscrição com salvaguarda urgente do Processo de Confeção da Capa de Honras no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial”, assinalou Helena Barril.
Para a autarca do distrito de Bragança, esta inscrição no INPCI vem reconhecer valor patrimonial desta peça do vestuário tradicional, porque é “necessário que a capa de honras continue a ser valorizada”.
“O reconhecimento desta peça de vestuário como património cultural imaterial vai trazer mais-valias, sendo extremamente importante porque vai valorizar todo este saber. Para já são poucas as pessoas que confecionam este traje”, frisou Helena
Em comunicado, a DGPC “reconhece a necessidade de salvaguarda urgente a este saber-fazer, que atualmente está apenas na posse de três artesãs em Portugal, na vila de Sendim, onde confecionam estas peças”.
Explica que o pedido de registo do “referido saber-fazer foi proposto em 10 de julho de 2022 pela Câmara Municipal de Miranda do Douro, que desenvolveu trabalho de investigação para aprofundar o conhecimento desta arte, com o objetivo da sua inventariação na plataforma MatrizPCI”.
“Dada a urgência da salvaguarda desta prática centenária em risco de desaparecer, a DGPC ao fim de quatro meses inscreve agora o ‘Processo de Confeção de Capa de Honras’” no INPCI.
Segundo a publicação hoje em DR, a inscrição em causa reflete critérios constantes do regime jurídico de salvaguarda do património cultural imaterial, como a importância “enquanto reflexo da identidade da comunidade, grupos e indivíduos que a praticam e se encontram associados, bem como a importância da sua dimensão histórica, social e cultural na área territorial em que se insere [Nordeste Transmontano]”.
De um agasalho de guardadores de gado até uma peça de vestuário que "está na moda", a tradicional Capa de Honras Mirandesa está a conquistar espaço num panorama do vestuário tradicional português, onde se confecionam chapéus, capas, carteiras e outras indumentárias que são usadas um pouco por todo o país e Europa, tanto por homens como por mulheres.
Atualmente, é apenas utilizada em cerimónias protocolares ou atos de importância relevante. No entanto, é usual oferecer uma capa de honras às pessoas distintas que visitam o município de Miranda do Douro.
A Capa de Honras Mirandesa, feita de pardo ou burel (lã de ovelha), é já utilizada pelos noivos no dia de casamento.
De acordo com o historiador António Rodrigues Mourinho, a origem da capa de honras mirandesa remonta aos séculos IX ou X, portanto medieval, tendo origem na “capa de chiba” que, traduzido do espanhol para português, quer dizer “capa de cabra”.
Segundo o historiador, apesar de se pensar que esta peça 'sui generis' ser de origem medieval, só há dois documentos conhecidos até agora que referem este tipo de capa e são datados de 1819 e 1828.
Este património está igualmente associado às regiões espanholas de Aliste e Zamora, onde há muitas semelhanças entre as capas já que é apenas uma linha de fronteira que separa os dois povos.
O município de Miranda do Douro promove no fim de semana o seminário "Capa de Honras, do saber fazer à marca identitária" desta peça de vestuário tradicional.