No início deste ano largou a carreira de jornalista e partiu rumo à cidade das luzes à procura de uma vida melhor. Carla Gonçalves, de 28 anos, natural de Bragança, trabalhava no jornal Mensageiro de Bragança «sem horário». «Fazia fins-de-semana de 15 em 15 dias e trabalhava aos feriados, sem nunca ter sido remunerada para tal», recorda.
Decidiu emigrar, juntamente com o namorado, Pedro Diz, porque “a nível financeiro e pessoal, sentia o meu dia-a-dia a degradar-se”. “As condições de trabalho não eram as melhores, o dinheiro nunca chegava nem sequer a meio do mês. A isto acrescia a instabilidade laboral, sentida tanto por mim como pelo meu namorado”.
Conta ainda que em Bragança os dois ganhavam cerca de 1.300 euros mensais, “dinheiro que voava rapidamente”. “Estávamos a pagar o empréstimo do apartamento e os juros não paravam de aumentar.
Havia ainda o carro que, além de estar muito velho, começou a dar muitos problemas de manutenção”, refere, acrescentando que no trabalho “havia meses em que eu tinha o salário em atraso e o Pedro não sabia se iria ficar efectivo no lar onde estava a trabalhar”.
«Não somos árvores e quando não estamos
bem, só nos resta mesmo mudar»
A ida para França começou num encontro com um casal amigo que vive há três anos em Paris. “Falaram-nos da facilidade em encontrar trabalho, da diferença salarial, das diferentes condições laborais e decidimos arriscar”.
Carla e Pedro trabalham agora no luxuoso Hotel Shangri-La, bem no centro da cidade. Fazem 35 horas semanais, exercendo funções na recepção e restaurante.
“As minhas tarefas resumem-se a colocar os produtos do hotel nas casas de banho dos clientes, colocar as cadeiras e mesas dos salões históricos de determinada maneira, limpar os cobres com um pano seco, passar com um pano de plumas nuns vasos, colocar os menus nas mesas e limpar os cinzeiros das ruas”, descreve. Em termos salariais, é incomparável. “Ganhamos mais do dobro do que em Portugal e trabalhamos apenas seis horas por dia”, acrescenta.
Carla Gonçalves diz ainda que a adaptação não foi difícil. “Eu vim primeiro porque queria procurar casa e garantir que começava a trabalhar rapidamente. Fiquei em casa do casal amigo. Mais tarde mudei-me para junto dos meus padrinhos e com a ajuda de todos encontrámos um apartamento para nós”.
De resto, “temos tido tempo para nos divertir bastante e conhecer a cidade e os arredores. Há muitas exposições livres, concertos, espectáculos de vários tipos. Nesse aspecto, sinto que nunca aproveitei tão bem a vida”.
Quanto ao que deixou para trás, diz que, até hoje, nunca se arrependeu desta decisão. “Não somos árvores e quando não estamos bem, só nos resta mesmo mudar”. Por isso nem pondera regressar. “É impensável”, afirma peremptória. “Para fazer o quê?”, questiona.
Só nos resta desejar-lhe feliciades e sucesso na nova viada, mas se quiser colaborar aqui com o Diário é só começar.