A Polícia de Segurança Pública (PSP) vai estudar a noite de Bragança em conjunto com outras entidades locais para compreender se existem fenómenos de violência desconhecidos das autoridades, por ausência de denúncia, informou hoje o comandante.
José Neto falava no Conselho Municipal de Segurança de Bragança que se reuniu hoje para analisar os acontecimentos e consequências da morte do estudante cabo-verdiano Giovani Rodrigues, resultado de alegadas agressões em grupo na madrugada de 21 de dezembro, depois de uma desavença na noite.
Cinco homens com idades entre os 22 e 35 anos, todos de Bragança, estão em prisão indiciados, cada um, por um crime de homicídio qualificado consumado e três na forma tentada relativos aos restantes elementos do grupo com quem saiu nessa noite a vítima, que viria a morrer dez dias depois num hospital do Porto.
O caso revelou um universo desconhecido da autoridade policial, como afirmou hoje o comandante da PSP, em que “há muitas vezes altercações e episódios de violência”, mas não chegam Polícia “porque as pessoas não se aproximam das instituições para formalizarem a denúncia”.
Em 2019, o número de queixas por ofensas graves à integridade física duplicou em Bragança, mas reduz-se a quatro denúncias, o que o comandante entende que ”não corresponde de todo à verdade”.
José Neto citou “situações do ponto de vista antropológico das velhas questões das aldeias em que, os jovens que namoravam as jovens de outras aldeias, normalmente resultava em altercação”
“Há uma evolução dos tempos e provavelmente muitos destes fenómenos não são participados, porque eles próprios assumem a gestão de per si”, acrescentou.
O que a polícia quer agora é que estas situações cheguem ao conhecimento da autoridade competente e pede mais cooperação por parte de outras entidades, desde bombeiros, à Saúde e mesmo dos estabelecimentos de diversão.
O comandante informou que já na quarta-feira PSP reúne-se com os corpos de bombeiros de Bragança e Mirandela, as duas cidades do Nordeste Transmontano, sob a alçada da PSP, para perceber “efetivamente que leitura é que eles têm dos episódios a que são chamados a intervir, especialmente durante a noite”.
“Nada é possível estudar se não for conhecido e nós, enquanto polícia, temos obrigação de trabalhar, não só o momento em que temos de estudar o fenómeno, que o interpretar e depois temos que garantir prevenção”, considerou.
O comandante salientou também que, desde o verão, a PSP tem em curso o programa “Noite Segura”, em articulação com os estabelecimentos noturnos e em que em cada bar e discoteca há o chamado “sentinela”, o interlocutor com as autoridades.
O propósito deste programa é serem os proprietários a sinalizar e comunicar problemas à polícia, o que não aconteceu na madrugada de 21 de dezembro, “provavelmente porque houve a confiança por parte do estabelecimento de que tinha tudo controlado”, como admitiu o comandante.
O caso que levou à morte de Giovani começou no interior de um bar de Bragança com uma desavença entre elementos do grupo de cabo-verdianos, em que a vítima não estava envolvida, e do outro grupo de Bragança.
As agressões ocorreram fora do bar, na avenida Sá Carneiro, e o comandante da PSP acredita que, se o problema no interior tivesse sido comunicado à PSP, “eventualmente o caso teria outro desfecho”.
Relativamente ao caso, o único esclarecimento que considerou importante dar, no final deste Conselho Municipal de Segurança, é que “a todo o tempo, as instituições funcionaram naquilo que eram as suas responsabilidades face aos factos conhecidos”.
A investigação inicial envolveu a PSP, a Polícia Judiciária (PJ) e Ministério Público e levou à detenção de cinco suspeitos sem antecedentes criminais.
O comandante defendeu que, fazer deste caso “uma generalização, é abusivo” e que “este episódio em nada alterou o sentimento objetivo de segurança”.
“Bragança é uma cidade segura” foi o que concluiu também o presidente do Conselho Municipal de Segurança e da câmara, Hernâni Dias, que fez aprovar uma recomendação ao Governo para o reforço do efetivo da polícia, no sentido de garantir o rejuvenescimento do mesmo.
Hernâni Dias convocou para mais cedo do que é habitual a reunião anual do Conselho, que aprovou ainda um voto de pesar pela morte do cabo-verdiano que estudava no Instituto Politécnico de Bragança e tinha chegado à região há pouco mais de um mês.
Foto: António Pereira