A chancela UNESCO deu mais visibilidade à olaria negra de Bisalhães, Vila Real, mas um ano depois da classificação ainda são muitos os desafios a ultrapassar para a sobrevivência desta arte secular, nomeadamente o envelhecimento dos oleiros.

A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO, na sigla em inglês) inscreveu a 29 de novembro de 2016 o processo de fabrico do barro preto de Bisalhães na lista do Património Cultural Imaterial que necessita de salvaguarda urgente.

Foi precisamente o envelhecimento dos oleiros e o risco de extinção da arte que levou o município de Vila Real a apresentar a candidatura à organização internacional e, um ano depois, a vereador da cultura, Eugénia Almeida, faz um “balanço positivo” desta classificação.

“É um balanço positivo. Embora encontremos algumas dificuldades, mas é um balanço positivo. Demos a conhecer o património de Vila Real, conseguimos classificar um bem que está em vias de extinção”, afirmou à agência Lusa.

A chancela UNESCO deu “mais visibilidade” à olaria negra de Bisalhães e também se traduziu em “mais procura” pelas peças moldadas por Cesário Martins, Manuel Martins, Sezisnando Ramalho, Querubim Rocha, Albano Carvalho, Jorge Ramalho e Miguel Fontes.

A candidatura foi acompanhada de um plano de salvaguarda do barro de Bisalhães, o qual, segundo Eugénia Almeida, prevê uma forte aposta na formação de novos oleiros. Para o efeito, o município já encetou diligências com o Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) e outros parceiros, como a escola profissional da NERVIR.

Para a responsável, a formação representa “o futuro” do barro negro, já que a maior parte dos oleiros tem mais de 80 anos.

Os projetos para 2018 incluem ainda a requalificação de um forno comunitário em Bisalhães, bem como a colocação de sinalética nesta aldeia, a certificação das louças usadas para a restauração e a aposta na vertente científica, numa parceria com a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD).

Os ‘stands’, colocados numa das entradas da cidade e onde os oleiros trabalham e vendem as peças, foram alvo de uma pintura e, segundo Eugénia Almeida, ali vai ser colocada luz e definidas regras de utilização do espaço público.

Será também necessário encontrar locais de recolha da matéria-prima barro (barreiras) mais próximos.

Um ano após a classificação ainda está muito por fazer. A vereadora frisou que estes “não são processos fáceis” porque o “próprio processo de confeção da louça “é difícil”. Este é considerado um ofício duro, exigente, com recurso a processos que remontam, pelo menos, ao século XVI.

O processo de fabrico inclui desde o tratamento inicial que se dá ao barro até à cozedura.

As peças que nascem pelas mãos destes artesãos são depois cozidas em velhinhos fornos abertos na terra, onde são queimadas giestas, caruma, carquejas e abafadas depois com terra escura, a mesma que lhe vai dar a cor negra.

Para assinalar o primeiro aniversário da classificação vai decorrer uma cerimónia na terça-feira, em Bisalhães, durante a qual vão ser entregues os certificados da UNESCO aos sete oleiros e à Junta de Freguesia de Mondrões.

Foi também produzido o espetáculo de dança contemporânea “Barro”, que juntou elementos da comunidade a artistas profissionais numa homenagem ao barro negro.



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