Três meses e meio depois, a reabertura de fronteiras entre Portugal e Espanha permite o regresso dos vizinhos espanhóis a Chaves, pelo turismo, gastronomia e comércio, alguns até de visita ao país pela primeira vez.

No primeiro fim de semana após a reabertura das fronteiras terrestres, no dia 01 deste mês, turistas de vários pontos do norte de Espanha deslocaram-se a Chaves, à procura de fazer turismo e compras e pela gastronomia local.

Não fosse o novo 'cenário' de utilização massiva das máscaras, devido à pandemia de covid-19, e o movimento no centro da cidade de Chaves, no distrito de Vila Real, assemelhava-se hoje de manhã a qualquer dia de verão em julho no passado recente.

Desde Zamora, na comunidade espanhola de Castela e Leão, Pablo e Carine aproveitaram este primeiro fim de semana em que é permitido cruzar a fronteira para se deslocarem à localidade raiana para passar o dia, tal como costumavam fazer antes da pandemia.

“Gostamos muito de vir a Portugal. Passamos muito tempo em Miranda [do Douro], Bragança e toda a zona da raia e agora que reabriu a fronteira decidimos vir”, contam à Lusa em pleno centro histórico.

Em Chaves, pelo “ambiente diferente” e “lojas de roupa”, o casal espanhol também não tem medo do novo coronavírus por “Portugal estar melhor do que Espanha”.

Mas a reabertura de fronteiras, que estavam encerradas desde 16 de março devido à pandemia, trouxe até turistas do país vizinho pela primeira vez a Portugal.

Desde a localidade de Ponferrada, também da comunidade de Castela e Leão, Ana e José Luís escolheram Chaves como a primeira localidade para visitar em Portugal.

“Queríamos conhecer um pouco e decidimos entrar em Portugal por aqui. Apesar de tudo o que se passa, viemos com as medidas de precaução, pois tem a fama de ser um país bonito”, realçam Ana e José Luís.

A duas horas de distância de carro, a visita ao país ‘irmão’ dura apenas hoje.

Mas, a retoma da economia de Chaves prende-se também com o regresso dos vizinhos da localidade galega de Verín, a cerca de 20 quilómetros de distância.

As duas cidades formam mesmo, desde 2008, a Eurocidade Chaves-Verín, um projeto de cooperação transfronteiriço que envolve a partilha de um cartão de cidadão que dá acesso a piscinas, bibliotecas, eventos, formações ou concursos, bem uma agenda cultural e mais recentemente transportes.

Três dias após a reabertura das fronteiras, um grupo vindo de Verín passeava já hoje por Chaves, tal como costumava fazer antes da pandemia “várias vezes por semana”.

“Foi difícil este tempo de espera. Para mim, vir a Chaves é como estar em Espanha”, conta Josefa.

Também Pedro se mostra satisfeito pela abertura das fronteiras, habituado a pelo menos todos os domingos passear na localidade flaviense.

A fazer horas para ir almoçar bacalhau num restaurante local, o galego explica que as vindas a Chaves acontecem pelas idas às compras, às feiras e porque “é bonito”.

O regresso dos espanhóis à cidade da raia que faz fronteira com a Galiza permite o arranque da recuperação económica para o comércio local e restauração, mas nem tanto para a hotelaria.

“Com a abertura das fronteiras já começaram a vir os clientes habituais e que tinham mais saudades”, destaca Rui Machado.

O proprietário do Hotel Rural Casa de Samaiões e dos Armazéns Europa está habituado a receber clientes espanhóis, mas vê a hotelaria a sofrer mais este ano.

“Para as lojas, os vizinhos mais perto já começaram a vir. Temos mais gente, mas ainda está longe dos números habituais. Diria que está a metade do que era normal”, avalia o empresário.

Na hotelaria, com os casamentos e festas de grupo canceladas, a esperança será o turismo interno.

“Os espaços rurais só têm a ganhar, são muito mais tranquilos, com menos gente, não terão até aquela confusão de pessoas como tinham quando havia casamentos a decorrer”, aponta.

Também para o presidente da Associação Empresarial do Alto Tâmega (ACISAT), o regresso do “cliente espanhol” à região é “fundamental” por representar em alguns setores, como a restauração, um volume de negócios de mais de 70% ao fim de semana.

“Foram cerca de três meses com as fronteiras fechadas. Esta abertura era fundamental e imperativa para a economia local”, aponta Vítor Pimentel.

O facto de a pandemia ter pouca expressão na região do Alto Tâmega, onde Chaves se insere, pode potenciar a retoma económica se ninguém “baixar a guarda” e os números baixos se mantiverem.

“A nossa região está marcada como uma das mais seguras da Europa. O espanhol procura um pouco de tudo, vem pela boa gastronomia, pelo bacalhau, que gosta muito, e pelos grandes armazéns, à procura de lençóis ou roupas, por exemplo. Trazem dinheiro para a nossa economia”, aponta presidente da ACISAT.

Foto: António Pereira



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