Mau tempo fora de época provocou quebras superiores a 80 por cento na produção da cereja em Alfândega e a já famosa Festa da Cereja pode estar comprometida se até lá o clima não ajudar.
A icónica Festa da Cereja em Alfândega da Fé que este ano decorre entre 9 e 12 de junho poderá não ter produto de qualidade caso o mau tempo que se tem sentido em maio com frio e chuva à mistura não dê tréguas. Quem o assevera é a própria presidente da Câmara Municipal de Alfândega da Fé (CMAF).
“A cereja, pelo que tenho visto, este ano, é toda de muito má qualidade e nem sequer, além de estar aberta muita dela, está madura, não é aquela cereja vermelha que nós estamos habituados a comer já a partir do mês de maio. A nossa expetativa é que na festa da cereja tenhamos essa cereja já madura caso o tempo nos ajude até lá porque nas árvores a cereja está a pintar e se, entretanto, não houver muito mau tempo, podemos chegar à Festa da Cereja com a primeira cereja da época com alguma qualidade”, revelou ontem Berta Nunes ao Diário de Trás-os-Montes (DTM).
Mas a esperança é a última a morrer e se o clima ameno predominar até ao certame, do qual distam duas semanas, o fato de poder haver cereja de qualidade até poderá ser uma bênção e um atrativo extra, até porque irá ser raro nesta época o consumidor conseguir encontrar bom fruto. “Este ano vai haver uma redução da produção de cereja enorme. Nunca me lembro de tal ter acontecido, mas se tudo correr bem até à Festa da Cereja, esperamos ter lá essa primeira cereja da época e se isso acontecer será, de uma certa maneira, um motivo de agregação”, afiança a autarca, num tom de palpável otimismo.
Questionada sobre se a queda massiva na produção permitirá ainda assim cereja suficiente para colmatar a necessidade imperiosa do fruto para a festa que se avizinha e que já é considerada um autêntico postal do concelho de Alfândega da Fé, Berta Nunes não tem pejo em admitir que, “isso não podemos garantir porque, infelizmente, ainda não controlamos o tempo e irá depender muito das condições meteorológicas que se fizerem sentir até ao certame”.
Em termos de compromissos de exportação assumidos pelos produtores anteriormente, a edil assegura que a própria Cooperativa Agrícola já garantiu que não vai conseguir honrar esses acordos. “Este ano a cooperativa tinha já, de fato, alguns contratos para exportação com a Inglaterra, mas dada a grave quebra na produção, não vai ser possível cumprir esses compromissos”, aclarou a entrevistada, que continuou a desenvolver “os contratos e as expetativas de venda estão completamente goradas e isso vai trazer um enorme prejuízo para a Cooperativa Agrícola e para os produtores particulares”.
Na perspetiva da responsável máxima pelo município que representa, o que aconteceu este ano em termos de condições climatéricas desfavoráveis, nunca antes havia acontecido. “Este tempo que se tem vindo a sentir, infelizmente, do ponto de vista da agricultura tem sido péssimo, não só para a cereja, como também para a amêndoa e, inclusive, para as hortas. Tem sido muito mau porque o tempo tem-se revelado excessivamente húmido, frio e tem trazido muitos prejuízos para a agricultura”, descreveu a presidente da CMAF.
“Como disse, este foi o pior ano desde que eu me recordo no que diz respeito à cereja. Nunca tivemos um ano tão mau”, reiterou Berta Nunes. “No entanto”, ressalva a autarca, “se conseguirmos ter na festa cereja de qualidade esse também será um motivo de atração pois penso que este ano será difícil encontrar cereja de qualidade”.
Quanto ao futuro e para que este cenário apocalíptico não se volte a repetir, Berta Nunes revela que já estão a ser tomadas algumas precauções como, por exemplo, optar por uma outra estirpe de cereja, uma mais tardia. “Há sempre algumas quebras na cereja chamada de cedo, por isso é que agora os agricultores e a própria Cooperativa estão a optar por variedades mais tardias porque a cereja de cedo está mais sujeita às intempéries como geadas e problemas de baixas temperaturas que muitas vezes afetam a produção”, esclareceu.
Já em termos de prejuízos, a edil adianta que estes ainda não foram contabilizados, até porque o mau tempo não veio só dar cabo da produção agrícola como, também, danificou estradas do município e mesmo casas de particulares. “Este tempo tem trazido uma série de inconvenientes e prejuízos, não só na agricultura como noutras áreas, mas não temos, de momento, essa contabilização já realizada”, elucidou Berta Nunes.
Recorde-se que, geralmente, Alfândega da Fé, enquanto concelho, produz anualmente entre 80 a 100 toneladas de cereja. Em 2016, esses números estão seriamente comprometidos, uma vez que existem produtores com perdas totais e outros com quebras que chegam a atingir os 80 por cento.
O DTM tentou durante todo o dia de ontem contatar o presidente da Cooperativa Agrícola de Alfândega da Fé, Eduardo Tavares, mas até à hora de fecho da notícia, tal não foi possível.