Um cientista português candidato a Doutoramento pelo Massachusetts Institute of Technology está a realizar um estudo revolucionário que poderá levar à prevenção ou descoberta de uma cura para a doença de Parkinson.

Tiago Fleming Outeiro, de 27 anos, e Susan Linquist, directora do Instituto Whitehead do MIT, conseguiram duplicar com êxito uma das características mais críticas da doença no modelo mais facilmente manipulado em existência.

Nos pacientes da doença Parkinson, certas proteínas no cérebro formam agregados que contribuem para a morte da célula e eventualmente conduzem à manifestação dos primeiros sintomas debilitantes da doença. Até ao momento, a jornada científica para tentar descobrir como é que estes agregados se formam e como preveni-los tem sido vagarosa e difícil, mas isto poderá dentro em breve mudar graças ao trabalho inédito de Outeiro e Lindquist, que foi publicado na última edição do periódico Science.

Os dois cientistas conseguiram usar leveduras como tubo de ensaio vivo para mostrar como basta uma pequena quantidade da proteína neuronial alpha-synuclein relacionada com a doença Parkinson para convencer as proteínas circundantes a abandonarem o seu formato normal e formarem estes agregados fatais.

“Estamos a tentar estudar a doença de Parkinson usando um modelo celular muito mais simples em que é muito mais fácil fazer este tipo de estudos e mais rápido e mais barato colocar questões sobre aquilo que corre mal antes da doença se desenvolver,” adiantou Outeiro. “Basicamente, queria ver o que acontece na célula quando produzimos um bocadinho mais desta proteína do que o sistema de controlo pode lidar. Será que a proteína muda em termos biológicos? Será que nada acontece? Ou será que causa problemas à célula?”

As semelhanças entre processos celulares básicos entre os seres humanos e estas leveduras são tão surpreendentes que a equipa decidiu arranjar um grupo de leveduras, cada uma contendo níveis variados da proteína pha-synuclein.

“Estudamos quais eram os efeitos para as células quando elas produziam esta proteína,” informou Outeiro. “Vimos que a proteína se comporta de forma diferente dependendo dos níveis de produção e quando expressamos a proteína a um nível mais baixo a célula funciona bem sem problemas, e a proteína associa-se basicamente com a membrana da célula. Mas quando aumentamos ligeiramente a produção da proteína, a proteína começa a formar agregados dentro da célula e isso é exactamente o que se passa na doença de Parkinson. A partir daí temos um sistema bom em que possamos fazer outros tipos de estudos com drogas ou estudos genéticos para perceber quais é que poderão ser outros factores de risco na doença de Parkinson.”

Este trabalho, adiantou, é muito importante porque ajudará os cientistas a compreender melhor o que se passa ao nível molecular nestas doenças.

“Pode ser considerado revolucionário,” referiu.

Segundo Outeiro, que possui uma Licenciatura em Bioquímica pela Faculdade de Ciências da Universidade do Porto e completou o estágio da mesma na Universidade Leeds da Inglaterra, esta foi a primeira vez que as leveduras foram usadas no estudo da doença de Parkinson.

“As leveduras são células bastante mais simples e muito melhor caracterizadas do que células humanas, portanto oferecem uma maior variedade de técnicas que se podem aplicar para estudar os diversos processos biológicos,” explicou. “Numa fase inicial será mais direccionado à prevenção porque nos vai ensinar sobre coisas que podem prevenir ou influenciar a doença. Agora o que queremos fazer é usar isto como uma forma de descobrir potenciais curas.”

No futuro, o trabalho poderá ser aplicado a outros campos, caso da indústria farmacêutica, e ser usado na vida académica visto que permite estudar as coisas com mais detalhe.

Quando questionado, Outeiro não colocou de parte a possibilidade de vir a ganhar prémios em resultado deste trabalho.

“Isso seria óptimo,” disse. “É um estudo que tem uma relevância muito grande.”

Mas quando é que os pacientes com Parkinson poderão beneficiar directamente deste estudo?

“Isso é muito difícil [de prever],” frisou. “Isso é sempre muito complicado porque estas coisas são sempre muito demoradas. Não posso dar ideia de um prazo, o que posso dizer é que nos últimos anos temos aprendido bastante sobre esta e outras doenças e sabemos muito mais hoje do que sabíamos há 10 anos. E, sem dúvidas, estamo-nos a aproximar de uma possível terapêutica... mas dar um prazo é muito complicado.”

Oriundo do Porto, Outeiro conta completar o Doutoramento em Doenças Neurodegenerativas dentro de seis meses. Depois espera trabalhar num laboratório em Harvard durante dois ou três anos, e posteriormente regressar a Portugal para trabalhar no campo da investigação.

“Aqui há muito mais dinheiro investido e consegue-se fazer um trabalho muito melhor porque há mais recursos,” disse sobre o campo de investigação no E.U.A. “Em Portugal também há laboratórios bons onde se faz boa investigação, mas é preciso ainda desenvolver mais o país e investir mais sobretudo nestas áreas. O que tem acontecido em Portugal é que se tem investido na formação, mas depois não há formas de absorver as pessoas, para que toda a gente possa fazer investigação a um nível competitivo com o resto da Europa. Acho que isso seria importante tentar alterar e corrigir.”



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