Muitas mulheres do distrito de Bragança podem estar a recorrer à prática de abortos clandestinos. Esta é a convicção da coordenadora da Sub-Região de Saúde de Bragança, Berta Nunes, face à pouca procura que os serviços de interrupção voluntária da gravidez do Centro Hospitalar do Nordeste (CHNE) têm registado, desde que começaram a funcionar no passado dia 9 de Julho.

Cerca de dois meses após a entrada em vigor da lei da Interrupção Voluntária da Gravidez (IVG) até às 10 semanas só 14 mulheres recorreram aqueles serviços. O número está bastante aquém das expectativas da Sub-Região de Saúde que previa pelo menos 146 abortos até ao fim do ano, isto tendo em conta um estudo-base sobre as Práticas de Aborto em Portugal realizado pela Associação para o Planeamento da Família (APF).

A coordenadora da Sub-Região referiu ao JN que o número de abortos \"é bastante inferior ao esperado\", pois as previsões apontam que 20% das mulheres já abortou. No entanto \"a previsão é grosseira\", admite. Aquela responsável teme que sejam ainda muitas as mulheres que estão a recorrer ao aborto ilegal e clandestino, o que, a ser verdade, é motivo de grande preocupação para os serviços de saúde. \"Provavelmente as mulheres ainda não têm confiança nos serviços, e temem pelo sigilo, a confiança custa a ganhar\" calcula Berta Nunes.

Também não se pode excluir a hipótese de \"as mulheres ainda não estarem bem informadas sobre o assunto e sobre qual a melhor maneira de encaminharem o processo \" aventou. No entanto, há também a possibilidade de alguns abortos estarem a ser feitos após as 10 semanas, ao contrário do que determina a lei e daí o recurso à clandestinidade por já não ser possível realizar as interrupções nos serviços estipulados pelo Ministério da Saúde.

Ainda assim, 13 das 14 interrupções passaram pelos centros de saúde, \"o que é muito positivo e um sinal de confiança nos médicos de família apesar de estarem localizados em meios pequenos\".

As expectativas apontavam que as mulheres se dirigiram directamente ao hospital. O método utilizado em todos os casos de aborto legal em Bragança foi o recurso a fármacos abortivos, à cirurgia só se recorre quando o médico que acompanha a mulher assim o entende.



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