A arte rupestre do Côa e Siega Verde será o tema de uma exposição ibérica a ter lugar no Museu de Arte Popular, em Lisboa, e no Museu Arqueológico Nacional de Espanha, em Madrid, programada para o segundo semestre de 2022.
Esta exposição, que estará patente alternadamente em Lisboa e Madrid, terá como tema “Arte Sem Limite”, e tem por objetivo divulgar a arte rupestre do Côa, do Douro e de Siega Verde.
“Vamos levar às duas capitais ibéricas [Lisboa e Madrid] a arte rupestre do período do Paleolítico existente nos dois lados da fronteira. É uma exposição que está em fase adiantada de elaboração, e pretendemos surpreender portugueses e espanhóis com formatos e conteúdos de curadoria e com um discurso muito próximo do visitante”, explicou à agência Lusa a presidente da Fundação Côa Parque (FCP), Aida Carvalho.
Esta exposição está a envolver uma equipa de arqueólogos dos dois lados da fronteira, ligados à investigação da arte paleolítica do Vale do Côa e de Siega Verde, dois dos maiores santuários da arte rupestre ao ar livre da península Ibérica e do Mundo.
“Esta exposição é um sinal claro da vontade de Portugal e Espanha colaborarem e cooperarem nesta matéria. Encontramo-nos numa fase de crescimento e projeção deste tipo de arte”, disse Aida Carvalho.
De acordo com a presidente da FCP, a exposição “Arte Sem Limite” chegou a estar pensada para o Museu Nacional de Arqueologia. Contudo, o museu vai encerrar para obras, e a exposição passará para o Museu de Arte Popular, também na zona de Belém, em Lisboa.
“A equipa de trabalho do Museu Nacional de Arqueologia assegurará os serviços educativos para exposição”, frisou Aida Carvalho.
A curadoria da exposição “Arte Sem Limite” está a cargo dos arqueólogos Thierry Aubry e André Santos, da FCP, aos quais se juntam os arqueólogos espanhóis José Xavier Moreno e Cristina Vega Maeso, da Fundação Siega Verde.
José Xavier Moreno, arqueólogo da Direção Geral do Património das Juntas de Castela e Leão (Espanha), explicou à Lusa que esta exposição incide sobre a arte paleolítica da bacia hidrográfica do rio Douro, considerando que, no período paleolítico, não havia fronteiras, este era o mesmo território.
“Estes povos moviam-se pelo clima, para condições ambientais e naturais que condicionavam as vidas destas comunidades pré-históricas. Portugal e Espanha têm um compromisso com a UNESCO para preservar ambos os sítios da arte rupestre como Património da Humanidade [Vale do Côa e Siega Verde], e garantir a sua conservação para gerações futuras”, disse o técnico castelhano à Lusa.
Esta exposição faz com que os dois museus – Museu de Arte Popular em Lisboa e o Museu Nacional de Arqueologia de Espanha, em Madrid – acolham as mais antigas manifestações da arte rupestre com figuras de animais já desaparecidos, desde os auroques (boi selvagem), a cervas, cavalos e bisontes, entre outros que ficaram imortalizados nas rochas xistosas da bacia do Douro.
O Sítio Arqueológico de Siega Verde é uma extensão do Parque Arqueológico do Vale do Côa, que foi classificado património da organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), em 02 de dezembro de 1998, tendo Siega Verde obtido o mesmo reconhecimento em 01 de agosto de 2010.
Durante o ano de 1988, uma série de projetos de pesquisa foram realizados na área de Siega Verde pelo Museu de Salamanca, dirigido por Manuel Santonja e Rosario Pérez.
O trabalho de pesquisa concluiu que as gravuras de Siega Verde foram representadas usando três técnicas diferentes: picotagem de contorno, incisão e abrasão.
Em Siega Verde estão identificados cerca de uma centena de sítios arqueológicos, no total de 500 imagens gravadas, “onde 52% representam animais e, os restantes, traços e símbolos abstratos que não se conseguem codificar”, segundo a instituição.
Estudos cronológicos indicaram que a antiguidade das gravuras de Siega Verde varia de 20.000 a 10.000 anos, sendo portanto mais recentes cronologicamente do que as do vale do Côa, que podem chegar aos 30.000 anos, em pleno Paleolítico Superior.
O Parque Arqueológico do Vale do Côa (PAVC) detém mais de mil rochas com manifestações rupestres, identificadas em mais de 80 sítios distintos, integrados nos 24 bens classificados, sendo predominantes as gravuras paleolíticas, executadas há cerca de 30.000 anos, “cada vez mais expostas a adversidades climáticas, geológicas e antropomórficas”.
O PAVC foi criado 1997 e, no mesmo ano, a arte do Côa, foi classificada como Monumento Nacional. No ano seguinte, obteve o estatuto de Património da Humanidade pela UNESCO.