O Colégio Salesiano de Poiares, no concelho de Peso da Régua, vai fechar afetando 225 alunos, 25 funcionários, 21 professores e o motor social e económico que fazia mexer toda esta aldeia do Douro vinhateiro.

Enquanto quase todas as aldeias do interior perdem serviços e população, o percurso era inverso para Poiares, para onde fluíam alunos da Régua, de Vila Real e de outros concelhos próximos, professores, funcionários e onde um colégio alavancava muitos e pequenos negócios.

O vice-diretor, Fernando Coelho, confirmou à agência Lusa a decisão de encerrar o estabelecimento de ensino, que funcionava no regime de contrato de associação com o
Durante a próxima semana ainda se vão ouvir os gritos das crianças a brincar no pátio. O presidente da Junta de Freguesia de Poiares, Paulo Primo, disse que só quando o “silêncio cair” sobre o colégio é que se vai sentir o encerramento.

“Vai ser uma grande perda para esta e as aldeias vizinhas. Isto toca praticamente todas as famílias porque há sempre alguém que tem um familiar que anda no colégio ou vai perder o emprego”, salientou.

Paulo Primo referiu que a maioria dos funcionários é destas localidades e explicou que há também pequenos negócios, como a padaria, o mecânico ou agrícolas, que vendiam e prestavam serviços para a escola.

Disse ainda que, na região, não existem alternativas de emprego e, por isso, está “muito preocupado” com as repercussões sociais.

“Apesar da gestão privada, os salesianos não estavam aqui pelo lucro. Fizeram investimentos brutais, um pavilhão ao nível das grandes cidades”, frisou o autarca.

O colégio inclui um grande edifício onde são lecionadas as aulas, um pátio que é um campo de jogos e um pavilhão gimnodesportivo.

O vice-diretor Fernando Coelho lamentou que, com o encerramento, “tudo vai ser deitado ao abandono”.

O responsável garantiu que esta era uma “obra para servir os mais pobres” e que o “ensino era gratuito para os alunos”.

Com as alterações aos contratos de associação, o colégio perdeu turmas e, devido às novas regras de domiciliação fiscal, os alunos de, por exemplo, Vila Real, já não podem ir para ali estudar.

Carla Cruz, professora, e o marido Óscar Cruz, funcionário, começaram a trabalhar há 14 anos no colégio, possuem duas filhas menores e vivem em Vila Real.

“O desfecho agora é irmos os dois para a rua. Eu já concorri para tentar encontrar outra escola, mas sei que a minha hipótese de ser colocada será de Lisboa para baixo”, lamentou.

A professora Carla Fernandes veio trabalhar há 20 anos para Poiares, onde acabou por construir casa e foi com “muita mágoa” que recebeu a notícia.

A docente destacou a qualidade do ensino no colégio e as excelentes condições. “O mais importante é que aqui os alunos são pessoas e não números”, frisou.

Vítor Pinto é funcionário e responsável pela área da informática e referiu que, no colégio, todas as salas possuem computador, quadro interativo e livro de ponto online.

Na sua opinião este é um projeto educativo diferente e que acaba depois “de um ataque cirúrgico” feito através de “decretos e despachos”.

José Fontinha, pai de uma aluna de 11 anos, disse que ficou triste e lamentou não poder escolher uma escola que “dá garantias” para a filha.

O presidente da Câmara da Régua, José Manuel Gonçalves, defendeu que a solução para o colégio de Poiares passa por uma “medida de exceção”, que permita que os alunos de outros concelhos possam escolher estudar naquele estabelecimento de ensino.

O autarca disse que já apresentou a proposta ao ministro da Educação e que aguarda uma reunião com a secretária de Estado da Educação.

Os salesianos dinamizam ainda o centro paroquial que tem creche e infantário, uma banda de música com alunos e antigos alunos e são também padres das paróquias vizinhas.

“Há toda uma obra social que acaba por ser afetada”, salientou Fernando Coelho.

É que, acrescentou, com o fecho da escola, a congregação poderá sair de Poiares.



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