Em criança, Margarida Carrelo só foi um mês à escola. Abandonou para ir guardar as ovelhas que a mãe comprara. Nesse tempo, »a escola era na parte de cima de uma casa. Na parte de baixo dormiam dois bois».
«Cheirava muito mal, mas nem assim Salazar a fechou. E, hoje, com todas as condições, querem-nos a fechar!». Inconformada, ontem, Margarida, de 80 anos, juntou-se a mais de uma dezena de jovens mães que protestam contra o encerramento, no próximo ano lectivo, da escola do primeiro ciclo de Vilar de Perdizes, em Montalegre.
\"Devia estar aqui o povo em peso\", insurgia-se a octogenária que completou a quarta classe já em adulta. O encerramento do estabelecimento foi confirmado há menos de uma semana pelo próprio presidente da Câmara de Montalegre, Fernando Rodrigues, no decorrer de uma reunião com as mães.
Dispostas a tudo
Os 15 alunos que frequentam a escola terão que ir para Montalegre, onde, no âmbito da reorganização do primeiro ciclo se irá concentrar grande parte dos alunos do concelho. Inconformadas com a decisão, as mães prometem luta. \"Estamos dispostas a tudo!\", garantem.
O autarca diz, no entanto, que é a \"qualidade do ensino que está em causa\". \"Em Montalegre, a escola tem boas salas, aquecimento, cantina, actividades de enriquecimento e um professor por ano, coisa que em Vilar de Perdizes não acontece. O mesmo professor ensina os quatro anos\", defende Rodrigues. Os argumentos das mães são de outra ordem. \"Vamos ter que os levantar às 6.30 horas. E à noite só chegam às seis. De Inverno, a essa hora é de noite. Ou seja, chegam, comem e vão para a cama. Que tempo passam com a família?\", questionava uma mãe professora. \"Eles nem em casa comem bem, com uma pessoa a insistir, quanto mais lá!\", lamentavam.
Mas as \"boas\" condições da escola também são usadas para defender a sua manutenção. \"Quando lá vou, até me apetece ficar. Está um mimo!\", explicava a mãe Sameiro. Além de quatro salas, aquecimento central, material informático e recreio coberto. \"O presidente diz que lá estão melhor porque cada classe vai ter um professor. Então, se é isso, porque não contratam mais professores?\", argumentava outra mulher.