O combate ao alcoolismo nos distritos de Vila Real e de Bragança, quer no que toca à prevenção quer no tratamento dos casos mais graves, é insuficiente e não está a dar os frutos esperados.
As doenças relacionadas com o consumo exagerado de bebidas alcoólicas são detectadas quase sempre numa fase já avançada e, depois da triagem nos centros de saúde, pelos médicos de família, os casos mais graves são encaminhados para consulta hospitalar. Só que \"nem se sabe ao certo quantos serão esses doentes, uma vez que os do distrito de Bragança acabam por ser encaminhados para os hospitais do Porto, enquanto no Centro Hospitalar de Vila Real existe apenas um médico que acompanha cerca de mil doentes\", disse, ao JN, o responsável pelo departamento de Hepatologia (doenças do fígado) no Centro Hospitalar de Vila Real e do Peso da Régua, José Presa.
\"Os meios técnicos existem. Faltam só os recursos humanos, até porque, além do álcool, há cada vez mais casos de hepatites virais, sobretudo a Hepatite C\", diz o médico, acrescentando que \"enviar doentes desta natureza de Bragança para o Porto é uma brutalidade\", refere.
Entre os doentes de fígado tratados no hospital de Vila Real, \"60% têm problemas relacionados com o álcool, enquanto 30 a 35% têm cirrose hepática clinicamente detectada. A maioria são homens acima dos 40, mas nas mulheres a doença apresenta uma evolução mais rápida, sendo detectada também mais tardiamente (dependência escondida por vergonha)\", diz.
Segundo um estudo apresentado, ontem, pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), com o acompanhamento do Centro Regional de Alcoologia do Norte, e promovido pela Administração Regional de Saúde Norte, \"91,4% das pessoas inquiridas em Vila Real e Bragança, com entre os 15 e os 65 anos, já experimentaram bebidas alcoólicas, sendo que 49% são mulheres, 60% continuam a consumir regularmente e apenas 30% já não consomem\", explicou o coordenador do estudo, Vasconcelos Raposo.
O professor acrescenta que \"os inquiridos dizem não ter conhecimento de acções de prevenção, que deveriam ser promovidas por instituições financiadas para o efeito\".